terça-feira

Fill my heart with song and Let me sing for ever more!






Aaaaaai que delícia!

et nous ne pouvons pas recréer quelque chose de si belle







Minha Nikon e eu em uma tarde de sol!

era para ser diário... mas o que é diário na minha vida?

A ideia, em princípio, era transformar isso aqui em um"diário", o que implicaria, inevitavelmente, em relatos que, por sua vez, diários, registrassem o passar do tempo e seus fatais efeitos sobre meus dias, mas eu realmente não contava com a minha preguiçosa disciplina! Há! Mais um paradoxo...
E por isso eu abando por dias o meu mais querido "passa-tempo", por faltar o próprio tempo, por preguiça, por esquecimento, por falta de organização mental ou estruturação de ideias para pôr no 'papel'. Sei lá, sabe?
Conforme aquela minha inconstância...
Envolvendo pensamentos, ideias, reclamações (tantas), choramingos e cartas sobre tudo e para todos, acabou por se tornar algo mais próximo de um 'ralo'... Ralo que permite o escape daquilo que muitas vezes me enche, me transborda, me sufoca... Uma válvula de escape para as palavras que, não ditas, precisam encontrar um destino para livrarem minha garganta da agonia.
Cá estamos, esporadicamente, desabafando, desnudando, fazendo transparecer verdades que nem sabia (conscientemente), deixando sair pelo ladrão, um punhado de palavras que, desconexas e paradoxais, às vezes, fazem o maior sentido!
Por essas e tantas outras razões deixei de exigir de mim mesma a freqüência e organização que não tenho nem quando preciso, e as tentativas de "voltar" pra cá vão restar sempre frustradas se eu não compreender que se eu nunca deixei pra lá, ainda que rara pareça a minha presença, ela existe, e não se vai, motivo pelo qual não tenho para onde ou para onde voltar.
Quem não sai, não vai, não deixa, não precisa voltar, certo?!
Isso aqui sou eu e eu sou isso aqui, assim mesmo!
Produto de mim, meus pensamentos, ideias e toda minha bagagem de imperfeições e abandonos convenientes: desabafos cheios de emoção... Se Jane Austen contasse minha história, eu seria um típico romance pacato que, para sair da rotina e da constância, me envolvo em crises criadas pela minha própria mente para me recriar quando eu enjôo de mim mesma. Eu não queria ser... Mas eu sou uma completa 'metamorfose ambulante'. Ainda bem!

Bom, isso tudo me fez questionar sobre o que é diário na minha vida e, por isso mesmo, percebi que quanto mais mergulho em mim, mais percebo que não faz sentido ser alguém que não sou para padronizar minha personalidade. Esse deve ser mais um dos efeitos inconscientes do 'mundo de hoje em dia' que, sem que percebamos, nos impõe condutas, metas, modos de ser e de viver.
E por isso, eu, assim como qualquer um de nós, acredito, não sejamos estáveis ou permanentes quanto gostaríamos para nos sentirmos seguros, somos progressivos, variáveis pela própria natureza e isso é, no mínimo, fantástico!

Não, não tenho costume de ser constante, e isso pode ser bem mais difícil que supomos, mas é como se diz quando a correnteza intenciona seguir seu curso e por algum razão decidimos nadar contra ela: não é natural, e o que não é natural é, fatalmente, artificial e ser artificial é vazio, solitário demais, privado da sua própria companhia, a única infalível presença que poderia ter.

Triste mesmo é não se encontrar sem se perder tentando.

Vale mencionar que, como o puro ser humano que sou, tendo a fé 'menor que um grão de mostarda', como o atributo fatídico da mulher, uma tempestade de hormônios em choque, agraciada pela (ainda) juventude, razão pela qual não guardo a calma e paciência que somente a sabedoria nos concede, em meio a ideias 'quase' feministas e um raciocínio dialético, é natural que eu seja assim, um paradoxo! (lembra?!)

Sede de crer e força dos argumentos que nos levam à descrença

Dostoiéviski, em meados de 1854 já dizia: " Eu sou um filho do século, filho da descrença e da dúvida; assim tenho sido até hoje e o serei até o fim dos meus dias. Que tormentos terríveis tem me causado essa sede de crer, que é tão mais forte em minha alma quanto maiores são os argumentos contrário".
(Livro Crime e Castigo)


Sem mais, né?!

os prazeres da minha vida...








quarta-feira

“Laissez faire, laissez passer, lê monde va de lui même”

Enquanto estudava (pra variar), pouco concentrada na ciência jurídica, a qual me prestava, perdida em vários ou um pensamento disfarçado de muitos, me deparei com essa antiga frase: Laissez faire, laissez passer, lê monde va de lui même, e bastante atual, ainda que dita por volta do ano de mil setecentos e alguma coisa por Vincent de Gournay e que significa: "deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo", tornando-se de expressiva importância para o pensamento liberal, sobretudo econômico,  da época e, ainda hoje, fez com que eu parasse um pouco e meditasse...
Não me recordo do começo ou fim da linha de raciocínio, mas confesso que me trouxe calma, a calma que eu estava precisando para convencer-me de que a opção por deixar ir, passar ou fazer é apenas minha, todavia, nem por isso o mundo vai mudar seu curso ou deixar de ir "por si mesmo".
A bem da verdade, em que pese nos sintamos na obrigação de manusear as oportunidades, situações e, principalmente, pessoas, não significa que a vida não vai tomar seu curso natural, e acreditar nisso não nos torna mais ou menos céticos, tão pouco em seguidores de crenças incertas ou abstratas, mas faz com que nos sintamos mais confortáveis com nossas "crises da subjetividade privatizada".
Laissez passer! É melhor assim... Acredite!


sexta-feira

"[...]O amor não arde em ciúmes..."


"O amor não arde em ciúmes..."??

De onde tiraram isso?!
É certo que em estágios bem mais elevados do espírito, o amor, assim como todas as outras virtudes que pensamos entender, bem como sentimentos que ousamos sentir, têm um significado bastante diferente daquele que compreendemos hoje, se é que posso falar em algum nível de compressão. Mas enquanto isso, nós, reles mortais, não ardemos, queimamos, nos queima, faz queimar o maldito ciúme e suas nuanças de sexto sentido feminino enchendo nossa cabeça de caramiolas e nosso coração com uma dor irreparável, e por isso, a analogia de "ardendo" em ciúmes.
Explico.
Sei que o amor mais puro e evoluído não se ocupa com dores tão egoístas e materiais, mas alguém na terra, hoje, consegue amar assim? Penso que nem sempre... Assim, me sinto menos alienígena.
Difícil explicar o fenômeno que acontece conosco em virtude dessa sensação que mais parece uma corda na garganta, um desconforto geral, um espinho ou vários a brincar com o coração (físico) e uma novela mexicana em nossas mentes, tudo isso de uma só vez , se prolongando por dias a fio, e quando esquecemos, alguma situação faz com que tudo isso volte, e volta mais forte.
Se quer chora, quer correr, quer gritar, quer esganar alguém (ela), quer arrancar fora todo amor que sentimos pra que com ele saia também o maldito ciúme e toda sua corja de sentimentos ruins de dentro de nós.
Choramos, mas nao corremos, não gritamos (sempre), não esganamos ninguém (mas sonhamos com isso), e pior, não arrancamos de dentro de nós nem o amor nem o ciúme, e somos obrigados a conviver com ele, assim mesmo, nesse jogo  de "quem vai morrer primeiro", eu ou o amor...
Com o tempo e o amadurecimento, fui entendendo que essa responsabilidade não pode nem deve recair sobre ninguém (mesmo que eu quisesse), afinal, as pessoas não podem se privar de viver ou de companhias e etc. por capricho nosso. É... o ciúme é um capricho nosso que tenta colocar nossas relações em um patamar de segurança e confiança sem contudo considerar as vontades, experiências das outras pessoas.
Aos poucos (passos lentos) descobrimos que não estamos nos filmes da disney, onde protagonizam apenas a princesa, o príncipe e alguns animais falantes que colaboram para o "felizes para sempre", existe também essa bruxa que interfere sempre, e não se ela está fora (ela) ou dentro de mim.
Vamos entendemos que apesar de que quiséssemos extravasar todas vezes, impor nossa vontade e exigir do outro que faça parar de arder esse fogo, que recolha todos os espinhos do nosso coração, nem sempre (nunca) é justo, e às vezes precisamos calar, pois o ciúme pode ser mesmo pura vaidade, e não compensa sacrificar um amor por pura vaidade, não é?
Não corremos e nem dirigimos por vias longas, porque onde quer que estejamos, toda essa porcaria vai junto, fica perto, se faz presente, viciando o carinho, distanciando a paixão, esmagando nossa confiança e perturbando o ego, alter ego e o escambal!
E assim eu chego a uma conclusão... Já notou como um grande amor pode, facilmente, se confundir com uma grande neurose ou psicose?
Imagina alguém que seria capaz de mandar 365 cartas por 20 anos seguidos, sem obter resposta alguma ou alguém que diz que morreria por você; ou então alguém que sai desesperado pelas ruas atrás de um buquê de flores só pra ver sua amada sorrir. Ou ainda, imagina alguém que quer discutir diversas vezes pelo mesmo motivo que quase que adorando viver em um "loop", na tentativa desesperada de não ser, inevitavelmente, a chata e neurótica por tentar proteger seu amor.
Para os olhos dos apaixonados, qualquer dessas reações (loucuras) parece tão razoável, que, Sr, Juiz, seria preciso muito mais que 20 mil km de distância para nos afastar disso.
Então, agora, imagine pegar esse sentimento e guarda-lo em um lugar escondido pra ninguém ver. Aí sim é possível vislumbrar loucura, a diferença é que ela está escondida dos curiosos, maltratando apenas uma pessoa, eu.
Desculpe-me se te assusto sempre com esses episódios. Eu assustei a mim mesma, muitas vezes, e hoje, me surpreendo com o poder que isso tudo tem de me fazer pensar em todas, todas as saídas possíveis, como uma animal que, quando em perigo ou coagido, enfrenta o que for pra sair da emboscada. A questão é, até onde eu irei para não deixar caótica a nossa vida enquanto sacrifico a minha?
A esperança que me acalenta é que vou aprender na marra que determinadas coisas que eu venha a querer não dependem só de mim, de eu agir, e que é preciso seguir em frente, mesmo que com dores pulsantes, caso as pessoas não se importem com o que sentimos, ou ainda que se importem, mas não optem por se sacrificar por esse problema tão só "meu".
Desculpe-me por ser egoísta muitas vezes e tentar de todas as formas fazer com que você queira evitar a maldita proximidade constrangedora (aah aquela proximidade), o sorrisinho mesclando um interesse vil em destruir algo lindo que duas pessoas lutaram tanto pra construir, sem com isso, ter nada a perder; desculpe por querer que você tivesse os meus olhos, meu coração, minha mente, estivesse aqui dentro, apenas uma vez, para ver como eu vejo, como dói, como me enrolo em um labirinto em busca de solução, como me sinto esmagada enquanto tento domar esse leão para não ve-lo engolir ninguém... Mesmo que ele me engula por isso.
Dramas a parte, mas como quero que imaginem e por um milésimo de segundo sintam, antes de julgar o coitado do ciumento ou neurótico, como é difícil, penosos, ardido, quente e desconfortável sentir isso tudo, apelo assim, pra situação em que hoje me imagino, arrancando cada um dos espinhos e sentindo aquela lenta pontada advinda de cada um, e são muitos, vejo sangue, sinto dor, e quando acabo, limpo a ferida, faço um curativo, e tento me levantar, sabendo que após o terceiro ou quarto passo, alguém, sem a menor consideração vai arrancar meu curativo sem pena, sem preocupação nenhuma, sem interesse, em um ato de total (aí sim) vaidade exacerbada, enchendo-o de espinhos novamente, mas por amor, eu começo todo meu ritual de novo, e dessa vez, me calando, até onde eu conseguir, sem exigir de um ou de outro, um ato sequer de compreensão ou respeito, por tachar, agora, meu ciúme, de louco, desvairado, neurótico e injusto com o amor, com meu amor.
Aquele amor que faz com que eu queira ser uma mulher melhor,  pra ele, para o mundo, pra mim. Amor que em meio a tantos desafios e desentendimentos busca me dar sempre mais, mais carinho, mais aprendizado. Mais do que presença, vida, e por isso, não abri as comportas de defesa em face de uma ameaça eminente, existente sim, latente, real e falsa que existe próximo, muito próxima, mais do que eu gostaria, sob um manto inofensivo e antipático que me enoja, mas que, como vc não vê, preciso calar (?).
Noite pensando, dias faltando, horas saudando, tristes sonhos (quase reais), e depois de tudo isso pudemos enfim entender que o amor é, antes de mudo, entendimento. Esse é meu motivo, minha razão pra sofrer sim, mas sozinha.

E se esse não for o jeito certo de amar, qual será?




.:And I think I am just as torn inside:.

Where I Stood





.: Cause i dont know who I am, who I am without you :.

quinta-feira

J'parle fort et je suis franche, excusez moi!

Je veux
"Donnez moi une suite au Ritz, je n'en veux pas!
Des bijoux de chez CHANEL, je n'en veux pas!
Donnez moi une limousine, j'en ferais quoi?
Offrez moi du personnel, j'en ferais quoi?
Un manoir a Neufchâtel, ce n'est pas pour moi.
Offrez moi la Tour Eiffel, j'en ferais quoi?

Je Veux d'l'amour, d'la joie, de la bonne humeur
c' n'est pas votre argent qui f'ra mon bonheur,
moi j'veux crever la main sur le coeur
allons ensemble, découvrir ma liberté,
oubliez donc, tous vos clichés,
bienvenue dans ma réalité !

J'en ai marre d'vos bonnes manières, c'est trop pour moi!
Moi je mange avec les mains et j'suis comme ça!
J'parle fort et je suis franche, excusez moi!
Finie l'hypocrisie moi, j'me casse de là!
J'en ai marre des langues de bois! Regardez moi,
toute manière j'vous en veux pas, et j'suis comme ça
j'suis comme ça

Je Veux d'l'amour, d'la joie, de la bonne humeur
c' n'est pas votre argent qui f'ra mon bonheur,
moi j'veux crever la main sur le coeur
J'parle fort et je suis franche, excusez moi!
allons ensemble, découvrir ma liberté,
oubliez donc, tous vos clichés,
bienvenue dans ma réalité!"

ZAZ

Minha Brasília!


E se aproximam, novamente, aqueles dias em que todos se fantasiam, fora dos bailes de carnaval, e saem por aí contando histórias pro meu povo, histórias pra boi dormir...
Mais uma vez somos impelidos a votar em quem não acreditamos, por total falta de opção...
Os ladrões virando santos, corruptos se vangloriando, os que deveriam nos proteger, varrendo a sujeira para debaixo do tapete, fazendo da minha Brasília, palco de uma tragédia social e piada democrática.

Pai. Pai?

Quantas vezes eu quis falar com você, ouvir você, ver você? Quantas vezes quis ser filha, quis ter pai? Quantas vezes, na fértil e imatura cabeça de uma criança, a imagem e presença de alguém mais forte, seguro, protetor e estável, não se pintava?
Por toda minha vida tentei não me vitimizar, tão pouco me submeter a crença hipócrita de que minhas desilusões e erros estariam fadados a recair sobre os ombros de outra pessoa, mesmo que a responsabilidade disso fosse de alguma forma solidária. 
Tenho mil motivos pra me sentir injustiçada, abandonada, sozinha, sem a culpa que justificaria a sua falta, mas nada disso faz com que eu me sinta melhor e, mal ou bem, mesmo enquanto criança, decidi não me sentir assim, e fui crescendo, superando a sua ausência e administrando o peso que caia sobre mim com toda a loucura em meio a que eu me encontrava.
Quantas vezes não imaginei a cena em que me encontraria e arrancaria toda sua atenção, a qualquer custo, pra que me olhasse e me visse, de fato; para que quisesse me “conhecer” e que pelo menos se importasse com isso. Mas a verdade é que até nos momentos de raiva e abandono, eu consigo entender suas razões e não te sacrifico por isso. Parte da responsabilidade por eu sempre ver você como uma boa pessoa, vem das histórias, muitas vezes fantasiosas, eu bem sei, da minha mãe, que sempre se referiu a você como um grande amigo, pessoa substancialmente bela, e mesmo que ela nem te conheça bem, e essa seja mais uma de suas falsas lembranças, eu gostei de acreditar nisso e talvez por isso tento encontrar uma maneira de não te punir nem sentir raiva… Consigo, na maioria das vezes, nas outras tantas, prefiro não pensar em você, pois, vênia à sinceridade, é mais confortante tê-lo como alguém que foi à uma viagem distante e não pôde mais voltar e por isso me priva do apoio e carinho de pai… Não gosto de lembrar que não é pela distância (que não existe) ou pelas dificuldades do dia-a-dia (que não são suficientes) que me deixou vivendo sem ter você por perto.
Seria como um tumor benigno, que eu sei que esta lá, mas não me faz mal…
Psicólogos teriam um prato cheio ao analisar todo o histórico de como me fiz forte na vida, passando por tantas experiências que nenhuma criança deve passar, e como eu ainda sinto uma enorme gratidão por você.
Calma, eu preciso ter calma pra escrever isso tudo, afinal, são 23 anos de emoções que escondi pra ninguém ver, nem mesmo eu, e tenho agora a oportunidade de expor.
Gostaria de começar me apresentando, pra sanar a sensação de que você sequer sabe quem eu sou, como penso, como ajo, como as pessoas ao me redor me vêem, ou como eu me vejo.
Poderia elencar meia dúzia de adjetivos que me conferem, mundo a fora, mas isso me reduziria mais que o necessário, poderia citar um ou dois acontecimentos que te obrigassem a imaginar minha infância, adolescência ou outro momento da minha vida em que se absteve, mas será que faria real diferença? A mesma pergunta que se faz fantasma por todos esse anos, retorna a minha mente: “por que você não se importa?”
Gostaria de descrever pra você como foram meus anos na escola, cheia de revolta, tristeza, e busca incessante por uma válvula de escape que me permitisse não lidar com a triste realidade de que minha mãe é doente, doente demais, ela não consegue se conter, ela não sabe me impor limites e responsabilidades porque está a maior parte das vezes sob o efeito de medicamentos fortíssimos, e eu não a culpo por isso, mas ao mesmo tempo eu teria que aprender a conviver com isso, sozinha. Minha “materfamilia”, deficiente, por excelência, ainda tinha seu único suporte corrompido por depressões, desequilíbrios e algumas tentativas de suicídio escancaradas à minha frente; uma pequena irmã mais frágil do que eu gostaria que fosse, a qual tentei poupar um pouco da novela, não adiantou muito… Era muita coisa para administrar e ainda manter um “pseudoequilibrio” !
Por isso fiquei conhecida como “problemática”, “difícil” e “complicada”. As poucas vezes que me encontrava com você ou com sua mãe, voltava para casa feliz, me sentindo acolhida, até ter que lhe dar com minha mãe, mais uma vez me dizendo “se não está satisfeita vai pra sua família rica que é melhor” e completava dizendo: “Ah! eles não te querem…” Eu relevava, sabia que ela nunca bateu muito bem da bola e falava coisas da boca pra fora. Será?
Apesar disso, fui uma criança feliz. Amadureci mais cedo que o normal, afinal, eram mais responsabilidades que o comum e eu não tinha muito em quem ou o que me apoiar. 
Entrar na adolescência (precocemente) e descobrir que os problemas com a minha mãe estavam apenas começando, junto a um turbilhão de hormônios, e enormes dificuldades de aprendizado, foram uma bomba no meu caminho. Meu avô foi ficando doente e as coisas foram ficando mais difíceis pra todo mundo. Tomei algumas decisões tão erradas e sofri tanto por elas…
Até que conheci o Ronaldo, meu esposo, com o qual completo pouco mais de 2 anos de casamento, e 7 anos desde que as coisas começaram a voltar para seus devidos lugares, o que me fez crer que eu não estava abandonada, sozinha e sem amparo algum.
Muitas mudanças foram acontecendo, paralelamente. Fui lendo e conhecendo o espiritismo, e isso foi me dando um amparo e força que eu jamais supunha encontrar. Em meio a tantas informações reconfortantes, verdades e fé, estava Deus, que se fez o pai que a muito tempo eu clamava. Não quero parecer piegas ou fanática, mas isso tudo traduz uma fase de descoberta íntima e ao mesmo tempo responsável por eu estar me tornado quem sou hoje… Incrivelmente, acredite! Incrivelmente, na mesma época em que eu amadureci, cresci, me reinventei, minha mãe foi tomando jeito, foi se acalmando, mudando, a depressão foi sendo controlada, e aos poucos, penso que ela foi deixando de ser adolescente, junto comigo. Ainda doente, eu sei, mas ficou tão mais fácil!
Por fim, a outra corda que me tirou do buraco, e essa sim, eu lhe dou crédito, foi a oportunidade de iniciar uma graduação. O Direito já tinha me escolhido, eu apenas cedi! No início escutei de todos ao meu redor que isso seria uma verdadeira loucura! “Você? Direito? Não acha melhor escolher um curso mais fácil?”. Mas eu segui em frente, e hoje, satisfeita e realizada pela minha escolha, trilho o penúltimo semestre, quase 5 anos de muitas noites claras, muitos livros, muitas aulas, muito quebrar a cabeça. Em menos de um ano estarei graduada, feliz, advogada! E isso se deu em virtude da sua disponibilidade em ajudar, em fazer algo de importante pra mim, razão pela qual guardarei eterna gratidão! Foi uma ajuda que eu não esperava e que se tornou meio para que eu desempenhasse minha maior alegria e desfrutasse do enorme prazer de aprender o que no fundo, parece que já sei. Difícil explicar o que esse ofício que aprendo fez e faz  em mim.
Passei um pouco pelo meu passado para que o que vou lhe dizer ficasse mais pessoal, e vindo de alguém não tão distante assim de você, e, em que pese eu deixe transparecer que o dia dos pais é pra mim um dia comum, não o é. Ao contrário, normalmente é um dia de tristeza e de alguns questionamentos sem resposta, mas esse ano, devido a alguns acontecimentos, decide respondê-los eu mesma, e ainda que tenha algumas outras explicações para essas  minhas perguntas, acredito que se não me deu até hoje, não dará mais, assim como carinho, atenção, preocupação, saudade, amor de pai, e minhas respostas começam assim:
Com o passar do tempo, fui organizando os diversos campos da minha vida: profissão, estudos, casamento, minha casa, minhas coisas e minhas pessoas. Ciente de que já não adiantava eu tentar me aproximar de você e da sua família, ser a irmã mais velha e legal dos seus filhos - afinal demorei 7 anos para conhecer minha irmã mais nova e ver que meu irmão já é um rapaz e não a criança que eu me lembrava - me aproximei da Carol que, sempre com muito carinho, me tratou como uma querida neta e parte da família, parte essa que sempre quis ser! Me senti verdadeiramente abençoada pela dedicação das suas irmãs que, com corações enormes, me acolheram e sentiam alegria ao me ver. Percebi que embora meu pai não estivesse presente em minha vida, ele já tinha me dado de presente essas pessoas sensacionais e não sei explicar, mas me sinto muito mais parecida, quero dizer, encontro muito mais afinidade com elas do que com a própria família em que fui criada, e isso me fala muito sobre mim, permitindo que eu me conheça um pouco mais e entenda quem eu sou, porque ajo dessa ou daquela forma, e até mesmo que minha risada é escandalosa sim, mas eu tenho a quem puxar. Ah! A satisfação que sinto ao ouvi-los me comparar com você, afinal, eu nunca soube quem você é ao certo, como posso ter os seus trejeitos? Genética. Eu sei. Mas eu gosto de sentir que algo me faz parte sua, mesmo sabendo que posso ter sido apenas um erro no percurso, um acidente e que depois que eu me formar e seu compromisso financeiro se findar, acabaram também minhas desculpas para falar com você e sabe-se-lá quando vamos nos falar de novo.
As razões pelas quais não sinto raiva, nem hostilidade pelo real “abandono afetivo” o qual me relegou, não te isentam da responsabilidade que tinha sobre mim, nem te eximem do compromisso que tinha comigo, mas não vou te julgar por isso, nunca fiz, e não será agora a primeira vez, isso, um dia, a sua consciência o fará. O que me incitou a escrever e falar isso tudo é que hoje, no dias dos pais de 2014, é que, muito recentemente, passei por umas das experiências mais ambivalentes que experimentei até hoje.
Digo sobre aquele dia em que, felizmente ou não te encontrei na casa da Carol. Possivelmente não sabe da história toda, então vou te contar, e depois, terminamos com essa tortura que há muito evitávamos…
Pouco antes de escutar a sua voz vindo da garagem, conversávamos sobre como é viver sem sua presença, pra quem não conceber a criação de uma criança sozinha, assustadas talvez com minhas declarações, por que até ali, sinceramente, eu sentia falta de uma base, estrutura, amparo que só um pai é capaz de proporcionar, mas que apesar disso, como eu nunca tive, difícil retratar a dimensão do que isso me causou, e é verdade! Não sei se eu seria melhor ou pior, mais ou menos feliz, sei que isso influenciou e muito em tudo pra mim. Algumas vezes meus olhos encheram-se de lágrimas, por sentimentos que eu não gosto de ressaltar, despontarem meio a conversa, fazendo transparecer a fragilidade da barreira de segurança que criei pra não cair. Falei-lhes sobre como foi complicado viver com minha mãe, sempre tão instável, mas que eu não te culpava por isso (nem culpo). Na verdade não culpo ninguém. Você talvez não tenha descoberto, a tempo, o que era ser pai, pra mim, e jamais te crucificaria por não estabelecer vínculos sentimentais e involuntários comigo, afinal, involuntários são!
Lembro-me de ter lhes contado como foi emocionante e ao mesmo tempo dilacerante pro meu coração escutar você me chamar de “filhinha” ao telefone, certa vez. Um choque, eu senti. Não é para menos pois, mesmo que eu tenha me escondido atrás do fato de que não ter pai presente é não ter pai, eu tenho pai e ele acabou de me chamar de “filha”. Eu sei, pode parecer drama, mas foi de fato um drama mesmo. Para evitar “chororo” mudamos logo de assunto, porque esse eu, definitivamente, não gosto de falar.
Isso explica um pouco, ou não, do susto que levei ao ver, pela janela da cozinha, que você chegava, com a Julia, a irmã que eu não conhecia. Logo me dei conta que o susto meu, não era nada em face da sua reação ao me ver, desde o casamento, que chegou atrasado, não me viu e nem entrou comigo no altar, o que eu já contava, e ainda me arrancou lágrimas quando me  virei e me deparei com você na “platéia”. Não faço ideia do que se passou na sua cabeça naquele momento, mas eu queria saber… Mas engraçado mesmo foi o quão estagnada a Cristina ficou.  Eu ainda vou entender porquê ela não gosta de mim. Vocês não sabiam como me apresentar para os meninos e depois eu vim a saber a chocante e cruel razão disso. São meus irmão e vocês não podiam me privar disso e sobretudo, privá-los disso, mas não me cabe falar disso, me cabe sim, dizer o que tive vontade de dizer quando o ouvi falar que não tinha encontrado forma de lhes contar sobre a minha existência.
Tive vontade de chorar, e fui forte, engoli, como tenho feito ao longo desses anos todos. Sorri como forma de educação mas entalou na minha garganta o fato de que a psicóloga não soube ensiná-los a inserir essa informação. Engraçado. O que a psicóloga diria sobre mim? Sobre a ausência de afeto, a exclusão e privação injusta pela família, a recusa em fazer parte da história, a omissão frente aos desafios de se criar um filho. Fiquei curiosa no momento sobre o que ela iria dizer sobre isso. Seria mesmo a “forma de contar-lhes” sobre mim, o maior problema de tudo isso? Alguma vez você se preocupou comigo? Em como eu me sentia ou sinto? Como passei por maus apuros relacionados à saúde, escola, dificuldades outras? Alguma vez passou pela sua cabeça fazer diferente? 
E aquela mesmo pergunta surgiu, como de costume: “Por que, pai, você não se importa?”. Agora encomendei uma resposta que tira o peso da sua responsabilidade e ainda me conforta: Não se escolhe a quem amar, a gente ama, não é mesmo? E esse involuntário sentimento não nos é imposto, naturalmente surge na família. Eu só não entendi ainda por que eu não pude fazer parte da sua.
O emocionante encontro não parou por aí… Fui obrigada a ver, com seus três filhos pendurados em você, e em troca, estava lhes dando todo carinho e atenção característicos, com cuidados e preocupações dedicadas aqueles pequenos e dependentes seres… E aí então senti uma triste e irrevogável sensação, que não acreditaria ser possível, até aquele momento, quando vi a Julia, com os cabelos semelhantes aos meus naquela mesma idade, se debruçar sobre você com uma intima feição de filhe buscando carinho do pai, e o retorno foi instantâneo, recíproco, belo. Foi a primeira vez que vi meu pai, sendo pai. Verdadeiramente pai. Não o pai que paga, que custeia, que fornece parte das necessidades pelo dinheiro, que paga um boleto - pai-filho-boleto. E me dei conta de um pouco do que fui privada, do que perdi, do que não senti. Do apoio, do colo, do olhar de cuidado que nunca tive, que nunca soube pedir, e que, sem saber porque, não tive a oportunidade de receber. Mas como disse, não sou nenhuma vítima, passo apenas por aquilo que tenho necessidade de passar, e essas experiências na vida de todos nós nos fazem mais fortes, melhores e assim, aprendemos a valorizar todos que estão a nossa volta, por que quando falta um, percebemos quão incompletos nos tornamos.
Na despedia, por mais que eu tenha me esforçado muito, não consegui conter, tantas emoções que se alforaram e me acometeram à um momento de introspectiva reflexão e me forçaram a lhe dar com um sentimentos que ou eu desconhecia, ou fingia não sentir.
A bem da verdade, mais uma vez me sinto grata por aquilo, eu precisava entender o motivo da distância, da indiferença, da privação de fazer parte disso tudo. Eu precisava reconhecer, por mim, e mais ninguém, que não sou tão forte como demostro, tão indiferente como gostaria, mas nem por isso deixo de ser grata, não por ser "meu" pai, mas pelo pai que eu sei que você é.

Feliz dias dos pais, pai!