terça-feira

Foi por pouco...

O  ser humano vive mesmo pelos "poucos" que o traduz. Por ser pouco, se sentir pouco, fazer pouco...
Veja o exemplo: quem está solteiro busca um relacionamento por se sentir só, busca uma soma, um mais, busca o outro.
Pois bem! Ocorre que quando está com alguém, casa-se, acreditando ser mais dessa forma. Fatalmente se frustra ao ver que buscar ser mais pelo que o outro é, não supre, não corresponde, não basta. É pouco! Simples, não é.
E pelo "pouco" vamos vivendo...
Hoje, por pouco, não me sinto feliz; por pouco não sorrio, por pouco não vou dormir em paz. Digo por pouco em dois sentidos sintáticos diferentes que, coincidentemente ou não, expressam ambos, o que sinto e o que desejo dizer.Explico.
Por muito pouco, no sentido de quase, muito quase, hoje não é mais um dia tranquilo, sereno, em paz. Quase, muito quase, hoje não se torna mais um dia de brigas, tristezas, frustrações, máguas, amarguras e pensamentos bem ruins. Mas foi quase... e por que não? Por pouco... no sentido de pouca coisa, mais um patético motivo, desses que daqui a 10 ou 20 anos vamos sequer lembrar e consequentemente vamos pensar (no meu caso um dejavù) quão pouco, por tão pouco perdemos o muito, o grande, o belo, o eterno.
Entenda, não falo sobre grandes problemas, vultuosas ponderações, defeitos irremediáveis. E sim, essa é a pior parte da história.
Nesse mesmo quadro que lhes falo, estava no carro, já chorando, como boa e velha mulherzinha que sou, me colocando mais uma vez pra baixo, muito baixo. Senti-me como se eu pudesse olhar para o meu reflexo no espelho e dizer olhando nos meus olhos: " eu não consigo passar um dia da minha vida sem fracassar em algo". Hum... Pesado, não é? Mas foi bem sincero.
Pensei: " todos os dias eu fracasso como pessoa, como filha, como esposa ou em qualquer outro papel a que me preste...", mas especificamente, dado o contexto, continuei no meu particular mar de lamentações, " hoje, mais uma vez (o que torna bem repetitivo isso) fracassei como esposa pra ele. Mais uma vez um dormir sem um 'boa noite', um 'bom dia' sem um 'eu te amo', um 'oi' cheio de 'tchau', um casamento com pouco, por pouco, sou pouco demais! Não sou o que ele merece, muito menos o que ele precisa. Vou viver minha vida inteira tentando e buscando ser mais, ser melhor, ser diferente do que eu sou pra completar, suprir, alegrar, ver aquele sorriso, aquele semblante calmo, alegre, apaixonado... (isso vai dar um outro texto, em breve)
E comecei a rezar. Sim, como todo mundo, não sou diferente, na hora do aperto, da tristeza, rezei. E me veio uma onda de tranquilidade em meio aquele chororo e refleti: "Não sou uma pessoa ruim, não fracasso em tudo ou sempre. Sou leal, sou fiel, sou honesta, sou sincera, sou companheira e só isso aí já é muito mais que muitos homens vão ter na vida inteira! Não posso me sentir assim, tão pouco, tantas vezes...
E dái surgiu a ideia do texto de hoje... Sobre como nós nos enrolamos, prejudicamos, julgamos, sofremos, maltratamos e subjugamos por pouco. Muito pouco.
Usando uma metáfora bem típica dos meus dias ruins, é como se estivéssemos fazendo uma grande escultura no gelo. Daquelas bem detalhadas, difíceis porém de beleza inigualável, o que nos faz ir longe por isso, trabalhando duro. E aí, sem muitos motivos plausíveis, ou melhor, por POUCO, uma caldeira de água fervendo se deságua sobre a escultura, a levando a nada. Por nada!
É, nessa metáfora, a escultura de gelo é o casamento, a relação, a reciprocidade, a amizade, o respeito, o carinho, o tesão, a paixão, o amor... Construído com dedicação, esforço, perdão... E a água fervendo representa a dimensão do patético motivo que destrói tudo isso: o pouco.
Mas vale uma curta, singela e verdadeira lição que ouvi, ainda hoje, pra "não dizer que não falei das flores", escutei, não sei quem disse, que um casamento não é feito de muitas qualidades, muito menos de poucos defeitos, mas sim sim dois bons perdoadores. Mais pura, sincera, profunda e irremediável verdade.
Por fim, ainda em prantos, imaginei que se eu pudesse, como que por um milagre, juntar toda essa angustia de hoje que avassala meu coração, e entregar no colo do Cristo (eu sei que parece 'pouco' pra incomodar o Cristo e que eu teria muuuuuito mais coisas pra entregar-lhe nas mãos) o que Ele me diria? Como ele acalmaria meus anseios e angustias?
... É claro que se eu tivesse tido uma resposta não estaria aqui escrevendo! rs.. Mas dentre as milhares possíveis respostas, creio que ele me diria, pra respirar fundo. Ter paciência com a transitoriedade da dor, ter resignação para viver o dia de amanhã, ter fé na necessidade das provas e confiança no aprendizado que posso tirar disso e, principalmente, pude quase ouvi-Lo me dizer: Não sofra assim, por tão pouco.
É... me senti forte, melhor, mais calma. Quis chegar em casa e falar com ele sobre isso tudo pois me pareceu de grande valia toda essa ponderação e tudo mais... Quis lhe dizer pra que pudesse me conhecer mais e saber o que se passa aqui dentro. Quis que ele soubesse que 'por pouco' podemos perder o muito que nos aguarda e sem querer ouvir nada em troca, sequer resposta ou elucidações pertinentes, levantei-me com um certeza dilacerante: por tão pouco quem muito de ama se faz tão mal.

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