segunda-feira

O amor é lindo, mas acaba.

Uma forma, não poética, de falar sobre o amor: o começo do fim.

O amor é lindo e eu acredito nele. Provei dele. Vivi nele, com ele, por ele... Amei, me amou, nos amamos. Fizemos, corremos, mudamos, beijamos, dormimos e acordamos em êxtase só por estar amando. Esplêndido, ainda que de forma bastante primitiva, eu sei.

Mas não vou falar sobre o lado poético e famigerado do amor. Hoje vou falar sobre uma verdade e ponto. Triste, porém, uma verdade.

Não posso dizer que não existem amores eternos, ou que duram mesmo uma vida inteira (vou falar sobre a sutil e extravagante diferença entre viver a vida inteira ao lado de alguém e amar a vida inteira esses mesmo alguém), o que posso dizer é que as poesias, músicas e teatros falam tanto sobre o amor e muitos ainda parecem descrentes, mas para estes eu tenho uma boa notícia: o amor existe mesmo, e é lindo, mas acredite quando digo que ele acaba.

O lado ruim, que poucos ousaram retratar, e suas histórias foram taxadas de tragédia, por motivos óbvios, sabem que não fica ruim de repente. O fim não começa em dia especial nublado, com "DR´s" específicas, e músicas tristes ao fundo... O fim vem de mansinho, bem diferente do inicio avassalador. Começa nas pequenas intolerâncias, nas impaciências, na preguiça do beijo, na conciliação tardia, na distância preenchendo os dias... O que era tolerado com tranquilidade ganha um ar de "não aguento mais isso", o que não incomodava tanto se torna "que saco isso de novo", as expectativas que antes eram contornadas com paciência, vem adornada do pensamento sombrio de quão fracassado o outro de torna por não ser o que esperávamos. E a esperança, última a morrer, vira às costa e dá lugar à cruel conclusão: "não tem jeito mesmo. Não quero mais viver assim: Acabou."

Engraçado é que antes de me casar, o que eu mais escutava das pessoas é que a convivência era demasiadamente difícil e que era preciso ter muita paciência em algumas situações, mas eu deveria ter escutado os que me aconselhavam a não criar expectativas cruéis para o outro e não me escravizar às expectativas desleais também naturalmente impostas a mim. Não. ninguém me disse que isso ia estragar tudo.

Analisando de forma sistêmica todo o 'andar da carruagem', infelizmente, era possível prever os possíveis desastres cotidianos que iriam, em breve. arrematar o amor e guarda-lo no bolso, deixando os dias ao sabor das frustradas expectativas desleais e egoístas.

Digo egoístas pois por mais que algumas dessas expectativas tenham por fim um ganho comum, exigir, ainda que de forma inconsciente, uma atitude, ação, postura ou 'sei lá o quê', do outro, é cruel demais com ele, pois lhe transfere uma responsabilidade, senão um dever, de ser e agir de forma diferente e muitas vezes antagônica à sua natureza, e diga se não se faz ardiloso impor, esperar, exigir, e punir o outro quando não alcança nem realiza o "nosso plano perfeito", "nosso conselho", "nossa ideia" ou "aquilo que resolveria nosso problema".

Dessas expectativas silenciosamente frustradas surgem os pensamentos repetitivos de que "só eu colaboro", "só eu amo", "Só eu faço", o que consequentemente desencadeia a monoideia que poluirá a mente e o coração dando inicio ao que chamo de 'começo do fim': 'estou dando mais do que recebendo, logo, não vou mais fazer isso ou aquilo...", "a partir de hoje vou fazer como ele(a)", "já que é assim, ele(a) vai ver", "eu faço isso mas porque vc faz aquilo..." e é bem assim que vai.

Aí já viu né; Você vai se transformando gradativamente eu alguém completamente diferente do que era antes, deixando de fazer o que conquistava o outro, agindo de forma que o afasta cada vez mais. Brigas e brigas cheias de acusações, afinal ninguém quer sair por baixo e aceitar não ter razão. Ocupando os diálogos com justificativas baseadas no que o outro fez, sem tomar pra si a responsabildade de estar fracassando em conjunto e não ter vontade de mudar isso, por uma razão simples: não quero mais! Acabou o amor. E quando ele acaba não resta ânimo pra resolver, força pra tomar as rédeas e resolver, compaixão para compreender, amizade pra perdoar... O que sobra? Eu, eu, eu, eu e eu! Não tem mais nós, e muito menos o você!

Preguiça de discutir e ouvir as mesmas ladainhas egocêntricas e carregadas de ódio sem razão. Raiva de saber que mesmo depois de anos, ainda estão lá, os mesmos defeitos ranzinzas. Isso mesmo! Os mesmos de sempre! a diferença é que não aturamos mais... Aceitamos apenas enquanto era possível acreditar que moldaríamos o outro ao nosso bel prazer, concluindo que não tem jeito, resumo: "Chega disso, eu heim!"
Por isso que ninguém é culpado sozinho pelo fim do amor. No meio dessa trilha sangrenta, um dos dois pode até decidir soltar a corda, para de agredir (emocionalmente), atacar (com acusações e menos reflexões íntimas), e desistir de lutar e evitar sair de uma relação que já vem comendo poeira demais, mas se há uma reciprocidade bem justa até aqui é a de que sempre dois se transformam tanto a ponto de serem irreconhecíveis entre si.

É triste ver tanto amor, verdadeiro, forte, que brilho tanto em nossa vida, que nos fez brilhar tanto, reduzido à acusações e cobranças mesquinhas como sempre são... Por isso choro e choro muito! E ninguém vai me ouvir dizer ao certo a razão, pois em que pese eu tenha colocado em meia duzia de frases esparsas algo sobre o fim, não significa que ele não doa como faca no estômago, não parece justo...

Sábia é a ilustração de que o cupido acerta um flecha na gente, e não nos entrega um botão de rosa... Porque o amor dói. Dói de alegria no inicio... e dói de tristeza no final.

Meu conselho... Como de praxe, eu não aplico! Não por não concordar, mas por não conseguir praticar... Simples, não?
Bom, se resume à máxima já cantada por Nina Simone em meados da década de 70 que dizia mais ou menos assim: Saiba levantar da mesa quando o amor não está mais sendo servido.
O que nas minhas palavras eu colocaria que é preciso deixar ir, deixar acabar, e tentar respeitar mesmo no fim, pois uma amor tão lindo deve ser guardado com boas lembranças, e pra isso é preciso compreender que amor existiu ali, foi lindo, mas chegou ao fim, sem culpa exclusiva, sem eventos grandiosos, sem erros fatais, mas por pequenas intolerâncias, fim das cortesias, sem beijos apaixonados, sem vontade de rever, sem promessas, sem esperança. Aí então é hora de levantar pois o amor não está mais sendo 'servido'.

É minha conclusão lógica é bem diferente daquela que Martha Medeiros relatou quando escreveu que 'o amor não acaba, nós é quem mudamos'. Discordo e por uma razão bem simples. Se mudamos tanto a ponto de não amar mais, resta claro o fim do amor. Ou não?! Diz ela que "o sentimento não se esgota, nós é quem nos esgotamos de esperar, da mesmice ou de sofrer". Me desculpe, mas não me parece razoável. O amor acaba sim.. acaba lento, acaba triste, devastador, melancólico e sofrido. Sofrido demais para continuar poético.
É trágico, mas o que restar depois do fim são boas e saudosas lembranças de um tempo feliz, um tempo de amizade, sexo, conversas gostosas, carinhos inesperados, bilhetes carinhosos e de amor. Restam lembranças de amor. E essa lembrança sim, você vai amar a vida inteira.

Bobagem essa de que "vai mimar pra sempre". Essa é uma pura, honesta e inocente mentira (ah! os paradoxos...) de amor. Rememora os dias em que promessas de tempos eternos faziam todo sentido, pelo simples fato de que os errinhos, percalços e dificuldades cotidianas não pareciam ter o poder arrasador como de fato tem.

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