domingo

Ontem eu chorei...

Ontem eu chorei de verdade. Chorei com a alma. Chorei sozinha. Chorei angustias mais reais que eu pudesse imaginar.
A bem da verdade eu senti saudade das vezes que chorei por chorar, por emoções simples e repentinas. Tristezas mais dramáticas e transitórias do que eu supunha.
Mas não foi assim ontem...
E como de costumo, volto pra esse universo só meu, sem ter que manter a pose, o close, o sorriso superficial, o otimismo disfarçado, sem sustentar o teatro da vida, colocar pra fora aquilo que me aperta por dentro.
Eu venho crescendo, sabe? Parece uma conclusão lógica mas no fundo representa uma transformação visível a mim mesma, entende? Sabe quando vc mesmo percebe que amadureceu, aprendeu, conheceu, sabe do que se trata e daí até seus sentimentos ficam mais conscientes, reais, e mais duros também.
Tenho sido tão dura comigo mesma, colecionando "pedras", dores, mágoas, decepções, pressões... Tenho sido tão cruel comigo mesma, aceitando situações tão humilhantes, degradantes, desprezíveis mesmo. Tenho sido tão irracional que estou me permitindo sonhos muito mais altos do que sei que posso voar. Me sustento com frases feitas de auto-estima e me apoio sobre elas por um caminho muito mais difícil que aquele que me convenço.
Tenho sido uma péssima companhia pra mim mesma à medida que aceito o que não gostaria de ter que aceitar, mas por falta de opção, "vá lá"!
Tenho sido péssima companhia aos que me rodeiam, pois me sinto como uma panela de pressão que a qualquer momento vai explodir com alguém em surto rápido e doloroso de impaciência, frustrações, e uma raiva impiedosa que finjo que passa. Mas fica. estou colecionando raiva das pessoas. Isso esta me enchendo.
Tenho esperado palavras de incentivo, gestos de apoio, olhar confiante, suspiro de força do meu marido, e não tenho mais isso. E pior é saber que ele tem toda razão de desistir mesmo e isso é fatalmente uma obra minha.
A pouco escrevi sobre a triste realidade que os filmes da disney não contam mas que muitos já descobriram: o amor acaba mesmo, é foda, é triste, é desgastante, é um saco... Mas fazer o que? O que você, eu ou ele podemos fazer? A vontade que dá é de jogar tudo pra cima mesmo, começar do zero... quem não quer ver olhos brilhar ao chegar,  coração palpitar por ouvir, sorriso largo se estampar por saber que está ali, a alegria da sua vida?
Mas desistir parece uma fraqueza moral que tentamos remediar... Começar de novo é protelar as dores que sentiremos no futuro, novamente. Amor tem prazo de validade, todos eles. Não sei se é inteligente começar de novo e sofrer da mesma forma... Eu só espero que esse vazio que sentimos agora não sejam ocupados por outras pessoas e sem muito pensar na inteligência de fazer de novo, faremos por estar apaixonados... Ai como é bom sentir paixão... Que saudade disso.
Mas voltando ao assunto... eu ia contar sobre o que aconteceu ontem e já estou divagando por esse caminho escuro do amor.
Contextualizando, me propus fazer um curso que é conhecido por ser super difícil e daí conclua que é de fato enlouquecedor! Muita pressão, muito conteúdo pra estudar sempre, muita coisa na cabeça, pouco tempo pro resto da vida... É mesmo a coisa mais absorvente que já me prestei na vida. Mas eu tenho ideias "geniais" e claro que eu não escolheria outro que eu soubesse ser capaz de fazer, escolhi o caminho mais maluco possível, e isso já é quase característico meu.
Minha avó é quem paga o curso (bem caro, diga-se de passagem), e ela o faz por acreditar em mim, por acreditar que isso vai de fato mudar minha vida pra melhor, que isso pode ser um passaporte pro sucesso, e de fato faz mesmo parte de um caminho bem sucedido, mas ora, estamos falando de mim, né, não pode ser tão leve, então.
Pra aumentar a carga da "pedra" que carrego nas costas, recusei um proposta de emprego! Na verdade recusei duas... Aí você pode pensar: "como assim a pessoas reclama tanto sobre a vida pessoal, financeira, profissional e simplesmente sai recusando emprego por aí?"
Bom, lendo com carinho a história por trás, isso fará mais sentido que aparentemente, o problemas é que não costumo escrever sobre os episódios bons da vida, os dias felizes e as conclusões mágicas sobre minha existência, aí fica difícil compreender o que me fez agir assim, e a, rapidamente introduzo o simples e 'irrelavante' (ou não) fato de que me apaixonei! Me apaixonei pela carreira de Ministério Público! Me encantei, me motivei, me enchi de vontade como nunca antes, e estou sonhando, idealizando e tentando, aos trancos e barrancos, chegar até lá. Não sei bem como, tão pouco quando, mas é pra lá que estou indo... Eu acho.
Totalmente incompatível com o curso (super mega absorvente) e com o sonho (distante, aparentemente intangível) seria começar a trabalhar até às 22 horas... Porque nenhum escritório vai fazer caridade pra advogado iniciante. É eu sei, foi uma das escolhas mais importantes da minha vida. Diante de uma encruzilhada, foi ali que decidi que rumo tomar. Não sei AINDA porquê, mas foi fácil escolher, pois toda vez que pensava em deixar o curso, o sonho, e os planos meu coração se revirava no peito, doía, incomodava tanto que não queria nem pensar. Deus sabe o que faz... Deus sabe pq me fez sentir aquilo... Eu não sei mesmo.
Certo... Nesse cenário, mais um peso pra coleção, recusei um emprego bom, remuneração boa, e estou cá, continuo pesando pro marido, e ele continua com a comum descrença, preguiça e cansaço de me levar nas costas. Isso me mata! Mas é o preço que preciso pagar...
Curso difícil, sem dinheiro, casamento em declínio, minha cabeça tendo que focar nos estudos e eu ficando doente todo dia... Cada hora uma coisa dava errado... Acho que meu  corpo já estava me pedindo calma, eu não ouvi. Segui correndo, correndo dos tratores que me perseguiam e ameaçavam me atropelar, e eu fui ficando esgotada, fisicamente, intelectualmente, emocionalmente... E vocês sabem: sou feita de emoção, sou consumida por ela, e quando essas emoções são ruins se tornam minha maior fraqueza.
Caminhando por uma semana de enorme pressão por fazer a prova mais difícil do mundo (perdão da hipérbole), depois de uma briga boba com minha mãe, a qual atraio a responsabilidade pois sei que estou muito ansiosa e nervosa com tudo isso... Pedi desculpas já. Voltei pra casa... Fui deitar com uma indiferença enorme dividindo a mesma cama que eu, e tudo desabando "dans ma tête", olhei pro lado e pensei: "Tenho 25 anos. Sou jovem ainda, não estou tão feia quanto eu digo em voz alta, sou até gente boa, penso, porque não estou feliz? Porque esse homem do meu lado não está feliz? O que estou fazendo errado, meu Deus, me diga pra eu mudar o quanto antes!!!"
Não aguentava mais essa sensação de fazer tudo errado sempre (hipérbole, sua linda!), frustrar todas as pessoas que me cercam, inclusive eu mesma, fraquejar quando não posso, desistir quando aperta, largar mão quando canso, estou cansada de não ser quem eu preciso ser e que as vezes não quero. Cansada demais pra ouvir que pequenos erros meus são grandes demais pra alguém e que isso, por si só tem o condão de me destruir.
Estou cansada de não conseguir fazer o que é preciso. Cansada de ser pequena, pouco, quase nada...
Cansei. E do cansaço surgiu uma dor no peito, física mesmo, que não sei bem explicar... Parecia  que eu estava embaixo de um conteiner, uma pressão no peito, uma falta velada de ar, um mal estar... Levantei pra tomar água e ao chegar na cozinha, me desabei em prantos, um choro sofrido, comprimido, sufocado, pesado. Sentei-me no chão e com uma angustia enorme me invadindo, olhei pra cima e pensei: "o que estou fazendo com a minha vida? Quem sou eu, o que permito que as pessoas me façam, me digam, me cobrem? o que está acontecendo comigo? o que é isso que eu estou sentindo?"
Calei o choro, respirei fundo, e voltei pro quarto. Ele estava comigo, digo, no mesmo lugar, há pouco mais de 20 cm de distância, mas eu estava completamente sozinha. Mesmo depois de um sincero desabafo, sinceridade demais, meu sumo exposto, ele dormiu, leve, despreocupado e não pensou, não viu ou não quis ver que eu estava ali, bem perto, em pedaços, gritando por ajuda, apoio, força, carinho, atenção, amor... Não tive, ninguém estava ali pra juntar meus pedaços, pra me olhar nos olhos e me inspirar confiança, pra me dizer o que eu precisava ouvir, pra me puxar no colo e me permitir chorar, chorar tudo, chorar com um cafuné na cabeça, com uma presença me rondando, mesmo que sem dizer nada, eu estaria sentindo as doces palavras que só poderiam sair de um relacionamento feliz dizendo mais ou menos assim: "está difícil pra você, eu sei, mas eu estou aqui, com você, do seu lado, confiando em você e sentindo que você é capaz."
Não ouvi, não senti o cafuné, não tive colo pra deitar e sabia que eu havia chegado no meu limite emocional, mas peguei no sono... Dormi pesado e como em um piscar de olhos acordei.
Há poucos minutos da fatídica prova, levantei da cama, do lado do estranho que dormira comigo, sai do quarto em silênico e ao ver a luz do dia tive a certeza de que não estava passando bem, sentia meu corpo todo rígido e fraco. Cheguei pra fazer a prova e ouvi minhas amigas, horrorizadas, me perguntarem o que havia comigo, eu aparentava estar cansada, arrasada, com cara de choro; justifiquei da forma mais óbvia possível (eu sendo concha, pra variar), dizendo que estava preocupada demais com a prova e não havia dado tempo de estudar tudo e eu estava muito triste com isso.
Estava sentindo uns arrepios nas pernas toda hora. E no caminho pra sala começou o drama! Eu  estava tremendo, coração palpitando. Meu Deus do céu, nem quando apresentei monografia eu não estava assim, oab muito menos, o que é isso por causa dessa prova?? Mas não era apenas a prova... Eu estava em frangalhos ali, lançando mão do meu último suspiro de força entrei, fiz a prova, um desastre mesmo, estranho seria se fosse diferente.
Saí de lá desnorteada, meu pescoço doía, e fui para o carro, sem ver ninguém, desviei o caminho, fui de fininho, estava quase desabando, para pra falar sobre os pássaros seria o fim! Vim dirigindo chorando, mas eu estava calma, meus pensamentos a mil por hora, muita coisa passando pela minha cabeça, muitas ideias muitas conversas, o episódio da noite passada me amargurando, fui pensando nos termos do divórcio, me convencendo de que estar com alguém para não ficar só é a pior solidão que existe e eu estava provando dessa solidão... Mas logo corrigi minha postura e pedi ajuda a Deus, rezei, pedi calma, sabedoria, paciência.
Nem me lembro do caminho que percorri, eu estava sem chão, pensamentos foram começando a me sufocar, eu não estava conseguindo pará-los, queria deitar no escuro, mas sabia que se assim eu fizesse, minha cabeça enlouqueceria.
Cheguei em casa lá está ele na piscina, preocupado demais comigo (pena que não). Fui lavar louças para mudar o foco, e foi piorando o que eu sentia. Foi me dando mais e mais falta de ar.
Deitei, chorei... Ah... como ontem eu chorei... Chorei sentindo. Chorei sofrendo... Tristeza maior não houve, sério mesmo. E aí voltamos ao início da história.
Percebi que a falta de ar foi piorando e o peso no peito também. Parecia ser esse o motivo da falta de ar, inclusive. Sem conseguir para de chorar, comecei a sentir dormência nos braços. Digo dormência por não saber palavra que exprimiria melhor, mas era uma sensação muito estranha, talvez pior que dormência, cãibra, sem lá... Engoli o orgulho e vim na sala pedir ajuda para ele. Transtornada. Recolhi minhas últimas forças e voltei pro quarto, sem amparo. Deitei na cama e tudo girou. A dormência estava nas pernas, eu estava tendo algum grave problema de saúde, eu estava vendo tudo como um filme em câmera lenta, o sofrimento lento, não passava, minha boca estava forçada pra baixo, sei lá, eu não conseguia esboçar outra expressão facial (isso foi bem estranho), a dor no peito parecia fome, sabe?! Quando sente tanta fome que dá uma dor entre as costelas, sei lá. Muita dormência, pernas e braços, não passava. Me paralisava. E eu chorava... só chorava.
em algum momento ele apareceu no quarto e parado na porta com alguma indiferença perguntou o que podia fazer ou se eu queria que me levasse ao hospital, confessei que não sabia o que fazer. Da mesma forma que entrou ele saiu.
Continuei ali prostrada, com dormência nos membros, chorando compulsivamente, meus pensamentos em parafuso, não conseguia para de pensar em tudo, e isso ia se remoendo na minha cabeça.
Eu fiquei quietinha, me permiti sentir o grito do meu corpo pela minha displicência comigo mesma, chorei a angustia que meu coração não conseguia mais conter. Enquanto escutava a televisão na sala... Peguei o celular e pensei em ligar  pra minha mãe, ou alguma amiga. Estava muito difícil ficar sozinha, parecia que eu não estava reconhecendo o lugar que eu estava, não me sentia em casa, não me sentia segura, estava com medo, mas pensei que isso seria pior. Trazer outra doida pra minha doidura só iria piorar. Mas estava tão horrível e eu não sabia o que fazer.
Ele voltou, me perguntou o que era que estava acontecendo, e mesmo diante da minha resistência em falar sobre o que estava se passando em minha cabeça (que estava me pondo louca), ele insistiu, acho que por curiosidade apenas, falei pouco mais de 2 minutos e voltei a chorar sem parar. Ele deitou ao meu lado, em um toque sutil em minha mão fez uma oração, pediu ajuda também. Coitado. Ele também não sabia o que fazer. Pelo que o conheço ele devia estar pensando: "Essa pós vai deixar ela doida além de estressada demais, e esse choro todo é um pouco de drama também e não gosto quando ela chora. Acho exagero desse jeito aí."
Depois do meu pequeno, curto, silente desabafo, poucas palavras que falei, acredito que um tanto desconexas, ele me disse pra eu soltar essas "pedras", deixar o peso um pouco... Me sentir calma, e sem me sobrecarregar tanto... Disse algo relativo a como eu me assemelho a um trator ávido de satisfazer minhas próprias vontades a qualquer custo, e nossas brigas seria sempre fruto disso e essas brigas nos distanciaram de modo que não conseguimos mais voltar ao que era antes...
Ouvi. Ele tinha muita razão em algumas coisas. Silenciei o choro. Pedi a Deus pra bloquear meus pensamentos mesmo, e só me permitir voltar depois de amanhã... Com calma na mente, corpo melhor estruturado e que me curasse daquela crise maluca.
Ao final, já deitado ao meu lado ele só disse, e essas palavras penetraram meu coração feito faca, dilacerando o restinho de esperança que me sobrava e em tom de descrença e desistência disse: "eu me orgulhava em saber que a nossa paixão não era como a dos outros casais. A nossa não acabara, mas agora vejo que ela acabou."

Fiquei parada, sentindo o gosto de fel dessa confissão, não quis pensar no que fazer daí em diante. Não quis pensar mais em nada. Ele fechou com chave de ouro. Foi sincero. Infelizmente.

Saiu hoje sem sequer se despedir. Não preocupou com minha saúde, com minhas emoções, com meu estado, com o episódio de ontem (talvez nunca mais falemos sobre o que aconteceu), não se importou com o quanto eu precisava de ajuda dele... dele... o quanto eu precisava que ele estivesse ao meu lado, comigo, por mim... Não estava. Não ficou. Me olhou e não me viu. Me tocou e não me sentiu. Foi embora e me deixou. Sozinha. Fiquei de vez sozinha. E assim estou agora...

Não me pergunte o que fazer. Só quis escrever pra tornar consciente que preciso me respeitar mais. Respeitar meus limites, meu corpo, meu coração (metáfora para sentimentos). Escrevi pra deixar aqui registrado pra mim mesma o dia que procurei em quem me apoiar e me vi caindo no chão por não encontrá-lo ali por mim.

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