segunda-feira

Escrevo por mim, e não para mim.

Me amparo na certeza de que a grande maioria das pessoas que eu conheço se eximem de conhecer a si mesma ao sabor de uma existência premiada de nada ser, em que pese se mostrem cheias "de si"!
Em tempos de facebook, verdadeiramente "ser" e não apenas aparentar ser e ter, representa uma "indiossicrasia contrádiória" do ponto de vista social. 
Nossa! Ficou bonito isso, parece até um termo científico-sociológico... Mas não é, sendo, portanto, no sentido literal, um comportamento peculiar de uma pessoa em face do ambiente sócio-cultural em que esta inserida, afinal, são tantas selfies, frases de efeito, emojis que falam mais que palavras, mensagens de texto que expressam mais que um olhar, uma vida 'feliz-rica-harmoniosa' que é inevitável não postar!
Mas ninguém te disse que isso tudo é raso. 
Pessoas rasas. 
Palavras vazias.
Pose.
Palco.
Platéia.
Pra inglês ver. 
Te pergunto: quem é você? Olhando para o celular, com os dedos nervosos, levanta a cabeça, assustado, me encara sem entender-me como locutor. Questiona-se -antes de atualizar o 'status' (sentindo-se pensativo, seria)-: "Será que está falando comigo? Falando?" Olha para trás, não vê ninguém, sorri de mim e segue seu caminho.
Tudo isso para expressar que, sem conhecer a si mesmo, vivendo de maneira impensada e superficial, qualquer coisa que expresse é raso, hipócrita, vazio demais ao ponto de que uma pergunta simples soa como engano. Engano meu, engano seu.
É... escrevo porque escrever me faz sair do raso e mergulhar em mim.
Faz com que eu me afogue, me recupere, me desfaça e refaça. 
Escrever me desnuda, me tira o brio, não faço o 'social'.
Saio do palco, tiro a roupa, lavo o rosto, saio de mim e olho pra dentro.
Quando olhamos para dentro enxergamos o tudo o que somos e o nada, ao mesmo tempo.
Não é um paradoxo, é uma apreensão.
Escrever me tira a obrigação... da fala certa, das palavras justas.
Palavras que consigam expressar sem machucar. 
Quando escrevo eu apago até conseguir continuar.
Escrever me protege do tempo escasso pra dizer o que sou, me reserva dos ouvintes curiosos (apenas).
Escrevo porque é a forma que encontrei de me desmascarar, de me tirar do exterior e me levar para o interior e lá que tudo realmente acontece.
Escrever é o jeito que descobri de ficar parada e percorrer uma imensidão de sentidos.
Me permite ver o que sou e não o que aos outros permito.
Escrever é o reflexo mais translúcido que existe, revela a alma... Mostra o que poucas vezes, pelos olhos físicos é aferido.
Escrever sobre si é ver com os olhos do coração sobre quem se é, e isso não reflete no espelho.
Escrever me tira do centro, me tira a expectativa e faz com que de maneira pura, sensata e simples eu sinta.
Não é um passo largo de transformação, é um exercício constante de descoberta, desconstrução.
É um caminho...
Porque é preciso se ver, sem plateia, pra descobrir o que sente e como sente e depois decide o que fazer com isso.
Escrever desbota a aparência e revela-me a essência.
Escrever desabotoa e mostra dentro...
Escrevo porque sou o que sinto e não o que penso.


Nenhum comentário: