quarta-feira

Sem remetente

Sou do "tipo" que escreve cartas.
Escrevo cartas todos os dias, algumas pra mim, outras pra você, todas pra ninguém.
Escrevo pra colocar pra fora, deixar sair, exprimir.
Não jogo mais embaixo do tapete, mas tenho plena consciência de que a ninguém cabe suportar tanta emoção, tanta sinceridade... Sei bem que a ninguém cabe o peso de deglutir minhas pseudo verdades e por isso não mando, não envio, não entrego.
Sem remetente são as cartas que me esvaziam ao tempo que me permitem ser completamente eu.
Me deixam expressar sem revés, expor sem vergonha, pedir sem resposta, julgar sem perdão, gritar em silêncio, machucar sem ferir, curar sem remédio.
Posso me arrepender sem ônus, mudar de ideia sem justificar, revirar-me sem pedir licença,  ir embora sem me despedir, posso"falar da boca pra fora" (ou seria escrever do teclado pra fora) mesmo sabendo que não corresponde exatamente ao que sinto ou penso. Posso mentir, mas não minto. Posso fingir, mas não finjo. Posso correr, mas eu fico. Posso calar, mas não o faço. Posso me esconder, mas me mostro. Porque é tão mais fácil quando nos permitimos ser sem melindres, manifestar sem recalques, ser sem pose. É tão mais leve e descansa tanto ser quem sou e não quem as pessoas esperam... É como chegar em casa depois de um dia cansativo, atordoado e estressante e tirar o scarpin salto 10 e o sutiã! Ahhh! Ser mulher tem seus escapes, ser Fernanda tem suas cartas... Cartas para o mundo, todo mundo. cartas pra mim e pra mais ninguém.

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