quinta-feira

Brisa, Marisa

Florescer constante
Do ímpeto de vida
Força que inunda

Um 'crer' carregado
de um feliz
'é possível'

Desperta a meta nua
Sua conquista pura
Intuito que traduz-se
no mais belo dever

Não ter
Ser
Não dizer
Fazer
Não soltar,
Superar, sempre.

A todo minuto
Beleza
Em todo momento
Firmeza

Será possível tanta fé em Deus
Revelar-se em tanta fé em si?

Toda alegria
Diz que 'sim'

Do 'porquê' da vida
Faz valor
Dessa ensancha
Seu labor
Com seu sorriso,
Cor.

Voa, andorinha!
Que eu sei chorar em silêncio
Voa e se refaz
Sabe bem do quanto é capaz

Asas invisíveis 
Levando longe
Na alma com dor
O contorno do sonho
Inaugurando pra vida
A incrível forca que brota do amor

Rompendo limites
Se revela
Serena
Se expande
Sensível
Transcende o corpo
Se perfaz em corações

Brisa, Marisa é luz!

Corta a corda e se desenha
Colore seu compasso
Devassa esse mundo 

Lá vem ela
Na ponta do pé
Me presenteando com seu espetáculo particular
De força, vontade e fé.



-- Esse é meu presente de Natal para uma amiga que me inspira enquanto respira!

segunda-feira

Quanto mais me encontro mais me deixo pelo caminho...

Frequentemente me sinto injusta comigo mesma, como se não estivesse sendo leal a mim, como se fosse comum e mais cômodo 'fazer por fazer', 'calar por calar', seguir só por não ter pra onde voltar, me abandonando pelo caminho.
Irônico, se não hipócrita, estar nesse loop de teorias ideológicas, desabafos escritos tão sutis quanto reais, sonhos de conquistas que de tão sinceros tornam-se mais e mais distantes, declarações de amores já tão calejados por dores bobas e outras feridas e sua lenta cicatrização.
Costumava ser coerente me sentir um paradoxo e é preciso confessar que há uma beleza em ser inconsistentemente constante, aberta, pensante, pulsante, efêmeras as minhas certezas e mutáveis por consequência, construindo e desconstruindo para alcançar algo mais semelhante à plenitude de algum sentido da vida.
Mas agora me sinto um 'padrão' de contradições progressivas, esvaziando conceitos, denegrindo minhas próprias ideias, vivendo uma faceta incompleta e infiel de mim, calando minhas vozes pra permitir que outros falem por mim. 
Qual sentido de descobrir-se se não pode ser? Qual razão para buscar a si mesmo, se somos constantemente chamados a nos negar? Qual seria, então, o motivo para nos idealizarmos em um mundo que não nos cabe em traduções?
Não seria injusto e de certa forma torturante ter consciência, pensar por um, ou a um, propósito e de outro lado ter que lhe dar com a negativa do 'tudo' e 'todos' que lhe cercam em nos ver realizando-nos? Porque eu não concebo e me enfureço ao perceber que somos feito ratos em jaulas, frequentemente estimulados a nos superarmos e nos convencem que isso é necessário, ao tempo em que permanecemos cercados por vazios que preenchem espaços finitos, estreitos, mentes apertadas e pequenas. Ao fim e ao cabo, não somos quem podemos ser, somos 'o que' podemos ser, porque não basta não nos limitarmos e sairmos por aí a devassar nossos padrões, questionar premissas, estrear ideais e viver por ideais, o ambiente não se rompe em sua pequenez para você passar com sua grandeza de espírito. "Cala-te, engole esse choro! Centra-te na mediocridade dos anseios comumente materiais que ocupam e consomem seu salário, travestidos de objetivos de vida e fustre quando perceber que dedicou-se ao vazio por  todo o tempo. Mas não se engane que vai encontrar espaço nessa sociedade para expandir-se e verticalizar impressões, opiniões, reflexões por suas razões. Permaneça nesse núcleo abiótico que lhe envolve e consuma! Isso, eventualmente, consumirá você!"
Se Platão estiver correto ao induzir que aquele que encontra informação e com isso sai da caverna e vê luz, para o escuro não há de conseguir voltar, devo me imiscuir de tamanhos lamentos, ideias e suposições; me abandonar de pensamentos e confissões para perceber, por fim, que algumas cavernas, simplesmente, não saem de nós.
É que em face de tantos 'toma-lá-da-cá' que a vida me impõe, em face das insistentes derrocadas artificiais, por vezes irreais e superficiais, você se convence de que não é preciso pensar muito pra viver e, se assim o faz, está remando contra corrente e em breve vai se cansar... Olho para o lado e me assusto com a quantidade de pessoas que não questionam o mundo, a mim ou a si mesmas, não se desafiam nunca? Não se enfurecem com sua pequenez e nem se comprazem em mudanças íntimas? Isso me parece tão surreal, inteligível, destarte, me perguntarão: 'Pra que isso, menina? Besteira essa!' e eu fico aqui, pra variar, pensando, analisando, ouvindo jazz, escrevendo nesse belo caderno florido que ganhei de presente da minha avó sobre minha insatisfação com o engodo que é viver por viver. Pensar sem pensar, atropelando, forçosamente, nossa transformação tardia, que não tarde em nos tomar a conta.
Inquietude, cada dia mais consciente, constante, me incomoda a sair desse quadrado apertado que não me cabe mais, me faz olha lá fora e ver, escutar a música e ouvir o som que emana da arte, entender os sistemas que, mesmo metamórficos (como dizia Luhmann) não jazem em nos condensar, questiono mesmo pra ver brotar alguma razão para aquilo que, desarrazoado me parece, perfaz o sentido dessa minha existência.
É claro que fico inquieta! Você também deveria estar!
Será confortável assim, tornar lasso cada instante que oportuniza o 'descobrir-se'?
Porque se conformam com melindres, onde faz sentido isso? Onde está a plausibilidade das justificativas por se escusar de responsabilizar-se pelo próprio crescimento e transformar-se, contudo, ao argumento da "personalidade"? Quanto egoísmo! Quanta pequenez!
Afastar-se para não se dar ao trabalho da conversa. Revidar para não se submeter a cogente mudança de postura. Deixar a perder, por orgulho que o feriu... Quão imaturos são nossos reveses!
Por que (não entendo mesmo) as pessoas não se desconstroem em face da tragédia deliberada que produzem entre si, individual e coletivamente? Acaso julgam satisfatórias as peças cômicas e se fazem lastro da própria estrutura falida a esperar por um milagre?
De onde vem tamanha apatia que descola a boa razão dos nossos dias? Tamanha cegueira, comodidade quiça! Somos todas pessoas mais pouco humanas por excelência.
Melindres demais, 'mimimis' em demasia nos entorpecendo e nos impedindo de enxergar acima do 'pêlo do colho branco' o universo que clama ser explorado, reinventado dentro de cada um e no peito do outro e isso é tão incrível que não me contento e não entendo porque ninguém está me ouvindo... Por que ainda danço sozinha?
Ao passo que me descubro, me conheço e reconheço sou impelida a me deixar pelo caminho por faltar espaço pra mim aqui... Reluto, me revolto, me acalmo e sigo sob essa tênue linha de me encontrar e me abandonar, até o momento em que eu conseguir manter uma dupla personalidade: uma que de algum modo me conforte comigo mesma, me permitindo relaxar e ser sem melindres, medos e dedos, e outra que satisfaça o âmago da sociedade ridícula e limitada com suas pessoinhas doidas e doídas... Enquanto isso não acontece, vou buscando desculpas para a licença, me despedindo sutilmente e me retraindo para me libertar pois não consigo mais nadar no raso em que se situam as pessoas (a maioria delas), não consigo mais fingir que não, que não sei ou que não penso, ou se penso, que não me importo. Eu penso! E quando busco a beira, sinto falta de ar na superfície, não sobra espaço pra mim mais...
Acho que quando me afundei em mim encontrei um universo que me ocupa por inteiro.

quarta-feira

Step away...

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Conheço seu pesar por eu supostamente não gostar de você. Pensei que enchança maior não há para falar-lhe o que há muito, calo em meu coração... Por isso mais uma 'carta sem remetente' mergulhada em verdades nuas.
Gosto de você. Em circunstância outra seríamos amigas de verdade, pelo pouco que a conheço, traduzo em você uma pessoa extrovertida, engraçada e simpática... Isso é uma verdade! E por isso respeito você e me esforço pra não julgar suas atitudes, declarações e manifestações de desejos subliminares e sutis... Ok, e isso é uma mentira!
Perceba que uma coisa difere substancialmente da outra e, como hábito, passo a me explicar.
Antes de mais nada reconheço que nada do permitirei transbordar de mim lhe caiba por completo, não é que eu desponte verdades finitas e opiniões inquestionáveis ou definidoras. Aqui, não pretendo (sinceramente) te definir (já o fiz de modo incansável na minha mente e conclui que não vale o registro), mas vou colocar pra fora, vou deixar sair e vou te mostra por trás das cortinas o outro lado da minha (por você conhecida) pose de esposa "bem cuidada" e sorridente e me atrevo a incitá-la a questionar a ideia que absorveu sobre 'meu problema com ciúmes'. Já aviso que vou me eximir da polidez social mas vou tentar (sério) manter o respeito dentro do possível, afinal, vou levantar o tapete e trazer a sujeira os episódios tristes que vivi e que costumo largar por lá, com você protagonizando, insistentemente.
Confesso, desde agora, que não o faço por um mero ato egoísta (como pode bem parecer) de desabafo ao despejar-lhe concepções e até lamentos tão íntimos, em que pese o que me motiva é que no íntimo, sem convite, você adentra vez ou outra. Também não guardo a intenção altruísta de que será este um ato heróico para alertar-lhe sobre um problema seu, tão pouco tenho a intenção de coagir-lhe a afastar do meu "pequeno universo" o seu "grande cometa" que não tarde em atravessar por aqui a me lembrar que nesse meu mundinho, por mais dedicação, amor e cuidado com o qual eu o construa, minhas estruturas ainda estarão, infelizmente, à mercê de intenções alheias que, sob o manto torpe e contraditório que leva o nome de "amizade", chacoalham minhas bases.
Interprete as metáforas (as uso bastante), siga ao pé da letra se quiser, vista a carapuça, assuma a responsabilidade, reflita antes de julgar-me, desconstrua a imagem que tinha de mim ou a conjugue, junto ao panorama parcial (oposto de imparcial e de completo, ao mesmo tempo) que passaram a você e pense como eu. Como mulher que é, namorada e esposa talvez um dia, você me deve isso.
Não vou me desculpar (isso não é bem um revide), mas não posso te poupar também... O que posso te prometer é que, de agora em diante, apenas verdades direi.
Sei bem que a força da convivência, o tempo de permanência, a contínua exposição, o desvendar lento e consequente do outro, conduz à amizades e com ela a admiração e carinho o que para pessoas expansivas e espontâneas, reclama um limite mais rígido que carece de observação cuidadosa sob pena de tornar uma simples amizade em uma 'amizade colorida' e por mais pecado que pareça isso é tão natural e paulatino que, digo por experiência própria, depois fica difícil administrar. É isso mesmo, assim como você tenho a característica de ser extrovertida, sincera, natural e é justamente por acreditar que você não faz por mal, não começo minha preleção qualificando (ou desqualificando-a, em verdade) como espúria, cínica, calculista, amante... Somente por isso comecei dizendo uma verdade, que gosto de você e junto disso, lá vai minha segunda verdade: que por uma questão de "solidariedade de gênero", "caráter familiar", "personalidade ariana" "esposa clichê" ou sei lá o quê preciso confessar que o que não gosto é da confusão que faz com os limites mínimos éticos, morais, sociais e de brio, muitas vezes, em face do meu casamento!
Perceba que não falarei aqui do 'marido', 'ele', 'o homem', por uma razão dialética e ideológica! Dialética porque é preciso considerar que se busco dizer a verdade apenas (minhas, by the way) e não caberia aqui me subssumir à verdade dos fatos e acepções de outra pessoa e tomá-la como valor argumentativo pois estaria fadada à tornar "minha verdade" inteligível e não cumpriria minha promessa com você; e ideológica por fazer jus à minha (platônica para alguns) afirmação de ser feminista-igualitária-libertária, o que me obriga a descolar-me da noção de dona, responsável, inquisidora ou possuidora dos limites do outro e esses denunciam meu assunto para outro remetente, que não você, e mesmo sendo meu esposo, de desvincilho da concepção tradicional de direito sobre ou relativo à por "ideologia, arrisco dizer.
Por isso vamos estabelecer um acordo semântico de pronto: As verdades que exponho são minhas (o que relativiza seu valor, questiona-a e a desconstrói em face da verdade de qualquer outra pessoa, você inclusive, razão pela qual te alertei sobre "pensar sobre" e não tomar como sofismo ou silogismos que sejam).
São verdades narcisistas mas sinceras. Pseudo verdade, talvez, mas puras e que tem por escopo manter-me fidedigna às minhas ideias e pesamentos. Você já é bem grandinha para pensar nisso assim.
Por isso tudo é imperioso que afastemos o "terceiro" dessa história como interferência ativa. Vamos falar de mim e de você, sobretudo da sua postura em face do meu casamento e limites que você insiste em devassar.
Sou jovem, mas me atrevo a dizer que sei e aprendo a cada dia, a desvendar pessoas, por isso observo, questiono, analiso, reflito sempre sobre tudo. Não escanteio sutilezas e enalteço o subconsciente traduzido nas entrelinhas, nas brincadeiras, nos comentários tênues entre o que é e o que não é, o que se quer dizer e o que se deve. Você ficaria assustada ao perceber o quanto exprimimos quando tentamos não exprimir e o quando nos revelamos quando nos escondemos por trás de declarações despretensiosas. Essas vãs filosofias me conduziram à capacidade crítica de olhar e ver, ouvir e escutar (e isso não é redundante, é sim revelador) e é triste confessar o que vejo em você. Ameaça fria, mensagem subliminar, brincadeira despretensiosa aparentemente, comprometedora para qualquer bom entendedor, o urubu a cercar o alimento, o vigia da oportunidade tardia, a postura frágil e o sorriso pseudo inocente, mas intuitivamente sedutor. Eu interpreto pessoas. Como profissional que me declaro, traduzo verdades subliminares, intenções mescladas nas entrelinhas, palavras colocadas cuidadosamente descuidadas. Malditas palavras suas colocadas!
Preciso confessar que não conclui se você é de fato estrategista e oportunista por excelência ou sonsa em demasia...
Eu poderia preencher essas linhas com as descrições lamentáveis dos diversos, digo diversos, episódios aos quais já me submeteu e coagir-lhe a se colocar no meu lugar, mas haveria de presumir que você se importa e como não concluí sua intenção, ao fim e ao cabo prefiro expor-lhe de modo detido as minhas acepções e como me sinto e você, por si só, há de concluir a relevância e consequência.
Esse ápice se dá agora em virtude da minha péssima habilidade com contas (pra saber quantas vezes foram as que me invadiu), da minha mudança de postura (que me induz a questionar minhas atitudes e modificá-las) e meu compromisso comigo mesma e com o mundo de não deixar passar, de não fingir, não esconder de mim mesma aquilo que precisa ser visto! E "desculpe-me o transtorno, mas precisamos falar de você!" Simples, parece, mas não o é, te mostrar quantas vezes você figurou como algoz de brigas, discórdias, desavenças no meu casamento. Quantas! Se acaso fosse essa sua verdadeira espúria-íntima-intenção, infeliz confesso que sucumbi.
Por quantas vezes me despedacei, briguei, chorei, quis desistir, quis esquecer, quis fazer sumir você, da minha vida! Quanta angústia, quando medo, quanta insegurança e principalmente, quanto desconforto você já me causou e isso tudo eu só soube expressar ao argumento do ciúme.
"Desculpe-me" disse a ele: "Fraqueza minha" ou "Problema meu".
Entre idas e vindas, por anos permiti tacharem-me de louca, julgarem-me a intensidade, questionar e negligenciar meus desvarios. A "ciumenta", a "doida" ou mesmo: "ela tem problemas". Eu sei bem, isso certamente já deve ter sido pauta de conversas entre vocês e por tanto tempo resignei-me sob o peso de reconhecer isso tudo como verdade... Hoje amadureci, refleti, analisei e julgo demasiadamente deturpada essa ideia, injusta comigo e ilusória pra você e vou dizer porquê, porque eu gosto de você mas odeio tê-la por perto. Perto demais do meu casamento. Odeio quando se imiscui do seu papal de "colega do trabalho" que deveria te definir e invade minha intimidade, dilacera a distância saudável que precisa existir entre você e uma pessoas casada, sob pena de colorir o que não deve, por um preceito moral, pra começar!
Odeio muito isso! Odeio quando sua pseudo inocência me transfere o papel de bruxa e você a coitadinha que jamais teve a intenção de prejudicar, ofender ou se oferecer. Talvez (bem provável) que isso tudo você só compreenda quando for você a enfrentar a dura realidade de que seu marido tem uma "amigazinha do trabalho" que leva comida pra ele, que lhe comprar presentes temáticos com o time de futebol que conhece ser fanático, quando brinca com a intimidade dele entrelaçando-a demais à dela. Mais do que você gostaria de supor! Eu odeio quando pego mensagens suas NÃO mais subliminares e descarada oferta de ir à minha casa, acompanhar e cantar para o meu marido na minha banheira. Será possível isso? Arnaldo, pode isso Arnaldo? Oi? 
Brincadeiras vis, afirmam vocês... O que me deixa assustada e esmagada por dentro é saber que essas que eu descobri representam 1% do que de fato já aconteceu, do que já foi dito. Tenho medo de saber o que já foi feito. Isso vai morrer com vocês, mas acredite! Desejo a você em dobro, tudo o que me causou e essa lei (não minha) da ação e reação é infalível e sei que se hoje sou vítima, algum dia estive no seu papel, sufocando uma família, ameaçando um casamento, seduzindo quem não deveria por um capricho, por sucumbir a um desejo, auto-afirmação, queda de braço, auto-estima sei lá.
Motivos não me interessam, mas essas dentre tantas outras entaladas na minha garganta por anos, Fantasmas que sempre voltar a revirar e apertar meu peito, atormentando aquilo que deveria ser meu porto seguro, diluindo a confiança e me relegando a pecha de "ciumenta" e não de "otária". Pra mim ambos!
Odeio quando "brinca" pedindo ajuda dele pra se limpar no banheiro, odeio quando "brinca" pedindo um pedaço do meu lote para morar, odeio as caronas (não sei quantas e nem o que aconteceu dentro daquele carro mas até hoje aquela unha postiça não desceu!). Mensagens (nem sei quantas e nem seu conteúdo comprometedor). Brincadeiras (a forma mais lúdica de dizer a VERDADE). Odeio!
Ciúmes. Seria ciúme, então? Louco, desmotivado e gratuito? Me pergunto de após 10 anos seria o ciúme cabível e respondo pra mim mesma que em um mundo normal, com pessoas normais e com o mínimo de caráter ele sequer seria necessário, mas diante dos fatos, esses mesmo que descrevi, me diz você, é possível evitar o "monstro" que vive atrás da minha orelha?
Monstro nutrido pela bruta invasão, completa rechaça de limites, devassa do respeito a mim, meu casamento, meu bem estar. Você não conhece, olvida ou repulsa esses limites?
Isso a torna perigosa demais para todos que lhe cercam a presença. Sobre tudo às esposas...
Nesse contexto nunca ter sido amante de ninguém, nunca ter destruído lares e só me cabe rezar muito para que se afaste de mim e do meu casamento.... Mesmo sabendo que essa é mais uma das tiípicas expectativas de mulheres apaixonadas como eu, que em face de mulheres como você desinteressada ao reverso, se aproxima com sorrisos fartos, olhares sedutores, postura de menina-mulher frágil-doidinha-fácil. Fácil demais, a seduzir desavisados, cegos pelo desejo, carentes de auto-estima, presas fáceis. Homens casados são sempre presas fáceis. Machista demais isso, mas é uma forma de expressa outra verdade: homens casados precisam se sentir na ativa, carecem da sensação de ainda dão conta, ainda são capazes e pra esses, lá estão mulheres como você, ao sustentar o papel de "sou doidinha mesmo e sua esposa não precisa saber"!
A sinceridade que prometi está aí, e pode ser difícil de ouvir mas agora é a hora de nos despirmos das máscaras, peles e palcos afinal, mulheres assim ou assado, aqui ou acolá, eu ou você, somos sagazes e inteligentes o suficiente pra enxergar o que acontece na outra face da peça! O famoso "poder da sedução", a força da persuasão de sutileza imperceptível e brincadeiras tão inofensivas... É... Eu sei... e olha que nasci 10 anos antes!
Preciso mesmo me desarmar das ofensas prontas e na ponta da língua que venho tramando há tempos, preciso me abandonar da faceta de esposa "ciumenta" pra ele, "otária" pra você, me despir do sorriso falso que oculta o desejo enorme de te ver longe o suficiente do meu casamento e de qualquer outro que eventualmente seja vítima da sua própria torpeza e sem rodeios.
Ontem ele me contou que pediu pra que ele fosse te ajudar a comprar um carro, talvez ele tenha até ido, e mentiu pra mim, claro, isso dá divórcio... É... mais uma daquelas verdades frouxas embebedadas em uma tragédia com sensação de indignação, raiva e respondi estupefata com tamanho atrevimento: "É sério isso?" Esperei verdadeiramente que houvesse algum erro de dicção e que eu ouvi errado, mas não foi o caso. Acredito que ele foi ingênuo ao me contar e ao fundo até esperou minha aprovação quanto ao ato solidário a que ele fora chamado e eu só conseguia pensar que preciso mesmo estudar e construir algo mais denso, firme e intangível na vida pois se com mulheres com vergonhas tais já era difícil manter um casamento, com essas sem vergonha e sem limite algum muito menos. Mais uma vez você ali, inocente, frágil, fofa fazendo um pedido tão inofensivo e eu aqui assistindo meu casamento em "cheque", por um triz do "mate".
Mata a confiança, mata a segurança, mata a fidelidade, mata a lealdade, mata a harmonia... Cria tormento. Meu tormento.
Não vou dizer o que ele pensa, diz, sabe, quer ou faz...mantendo-me fiel à promessa, cabe a mim dizer que essa não é a primeira vez que faz isso, como demonstrei, e lamentavelmente não vai ser a última que trata meu casamento como um cone na pista e vem você desgovernada, embreagada, dirigindo na pista e estabelecendo uma relação de probabilidade destruidora e pior, ao argumento de que não tinha a intenção... "Não é nada disso que você está pensando, Fernanda!" e o convence disso com maestria, mas eu? Eu já estive no seu lugar, baby...
Enquanto lhe escrevo penso comigo tudo que ainda tenho a aprender, pra trabalhar dentro e fora de mim, todas as fantasias que preciso abandonar, todas as verdades que anseio conhecer, e as feiuras que existem no meu "altar-casamento" "sonho de princesa" "amor sincero, puro e verdadeiro", afinal, não sou tão ingênua a ponto de desacreditar que limites extemporâneos os seus, são necessariamente amparados ou repousam sobre limites que ele impõe ou deixa de impor, mas por ora, vou me ocupar do meu problema com você e não no fato de que o amor-poético não passa de uma contradição progressiva e manipuladora. 
Por enquanto, digo a você, por favor STEP AWAY! De vez... Chega pra lá, dá um tempo, sai fora, se toca, se liga, se manca, se fecha, fecha a boca, fecha a cara, fecha as pernas! Não me invade, não se intruse, não me assombre mais! Você tem sido implacável e eu não sustento mais isso!
Pode ser que um dia esteja no meu lugar, sendo a esposa tachada de desvairada, mas ao apagar das luzes só você vai sentir o gosto amargo da invasão, da devassa, do ver deitado a perder, tornar lasso ou por um fio aquilo que a duras penas, com tanta dedicação construiu e julga como parte fundante sua, amor seu.
Não sei muito sobre você, porque "você" se tornou um assunto delicado sob meu teto, não sei sobre sua família, não sei se você conhece alguém que já se viu abatido por traições (de toda sorte, inclusive as supostamente inofensivas - brincadeiras sinceras-escondidas-pífias demais), mentiras, falseadas versões dos fatos, meias verdades, partes curtas das histórias, tentando ocultar a parte feia e destruidora que se revelaria sem manipulações outras que envolvem "aquelazinha", mas acredite quando te digo o quão odioso é.
Eventualmente terá que conhecer seus limites e daqueles que lhe cercam, e por questão de honra, não lhe é pedido muito, é? Precisará saber até onde pode ir a partir de quando transforma esposas em ciumentas loucas ao invés de ter que se deparar com seu reflexo indiscutível no espelho de "amiguinha" "a outra" "a fácil" ou aquele que algum dia receberá 50 reais e poderá ficar com o troco.
Se eu gosto de você? Claro que sim! Veja que se não o fosse, minhas duras palavras lhe reduziriam à pacata imagem de quem furta amores alheios por total incapacidade de conquistar o próprio sequer. Mas não... acredito mesmo que como gosto de você, outra pessoa também o fará, e se quem está ao seu lado não lhe cumpre essas expectativas (minimamente dignas) não aceite! Não aceite menos! Não aceite meias verdades, "amiguinhas" perto demais colorindo a amizade pois o que é perto demais uma hora fica dentro! Busque pra você quem te supra, te cumpra, te assuma, te cuide, te dedique, se assemelhe, se debruce, se declare, te repare. Não mendigue, não lance mão do que por outro foi cativado, não se engane, não me engane... Busque, conquiste, ame e sinta que quando está preenchida não cabe mais sorrisos fartos e fáceis para outros homens, o que está ao seu lado vai te bastar e te consumir não deixando sobrar nada pra mais ninguém, e aí então, tudo o que você menos quer é que surja alguém na história com brincadeirinhas vis, frouxas, íntimas, oferecidas a macular seu sonho de "felizes para sempre". Por favor, não busque no "meu felizes para sempre" oxigênio para suas frustrações ou autoestima baixa, não busque no meu casamento o companheiro que você não tem. Esse é o limite! Não aceito isso! E agora declaro. Não guardo mais. Não finjo. Não escondo mais. Não quero mais que despeje sobre mim o peso do rótulo ciumento que por força do seu deflagrado desrespeito me acometo. Não o faça, eu te peço. Não induza à ideia de que não há interesse algum, intenção nenhuma, despretensão pois é insistente demais para torná-lo inocente. Você e eu sabemos que existe muito mais do que gostaria de deixar transparecer! E ainda que nada fosse, e de fato intenção alguma houvesse, não legitima, não condiz, não corresponde, não cumpre e não é páreo pra te eximir da responsabilidade por tamanha cizânia, desavença, caos.
Estou me varrendo pra fora, me limpando por dentro, me desaguando de tudo. Me dedicando a conhecer meus revéses, meus inimigos. Me livrando das poses, aplausos, apreços. faz parte da jornada matar meus fantasmas, despojar-me dos medos, deslavar verdades secretar, tirar do fundo, contar o segredo, repensar os rótulos que me deram e se eu discordar vou simplesmente tirar da mala e você? Você se colocou no meu caminho e pra não tornar-me fantoche, coadjuvante ou mera espectadora da minha própria ideologia, sucumbir ao meu próprio silêncio e ser vítima da minha própria história sob pena de viver não apenas com a orelha de burra, título de ciumenta mas também o arrependimento da covardia, trouxe aqui, em um tête à tête e te dizer que você não vai se encontrar em lugar nenhum enquanto esbarrar no "mundo" de outras pessoas fazendo com que elas se percam delas mesmas...
Por fim, inauguro minha última verdade a você: investi tempo demais te dizendo verdades por acreditar ainda que haja boa-fé como pano de fundo, caso contrário, laçaria mão de palavras feito lanças que ferem. Que esse hercúleo esforço, afastamento do meu orgulho e até honra, de certo modo, sejam úteis e não se permitam mais ser tão negligenciado por você como de costume, sob pena de declinar mais ainda e ao fim e ao cabo deitar-se sobre amarga consciência de ter sido escopo mais uma vez, da discórdia, da tristeza, do rompimento frio de um "felizes para sempre".
Triste vai ser recolher-se à posição de coadjuvante da própria história, afinal, as histórias falam sempre em príncipes e princesas, não é?


MP

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"Há cargos públicos que representam, por si sós, um prêmio e que não pedem dos que os ganham mais que o cuidado fácil de guardá-los. O Ministério Público, entretanto, se afasta inteiramente destes casos. Qualquer dos seus lugares é um posto de sacrifício, de conquistas diárias à opinião, de disputa sem trégua contra a malícia da advocacia, contra as reservas dos juízes, contra a ambição naturalíssima de seus próprios pares. Nenhuma das funções judiciais é tão sujeita às criticas da imprensa, tão exposta aos embates dos interessados, tão acessível às explosões legítimas das partes ou de seus procurados. Se o ocupante é digno do cargo, se está à açtura de exercê-lo, moral e intelectualmente, não sabemos de ensancha mais propícia aos surtos rápidos no foro. Se não o é, porém, sucumbe, arreia, cai por força - e cai do pior modo, aos poucos, dia a dia"

Carlos Sussekind de Mendonça

Eu, mulher, confesso

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Que suas censuras nos fez relutantes e ainda faz a cada dia...
Seus preconceitos permitem nos reinventarmos
Seus paradigmas nos impõe alvos a serem alcançados
Suas limitações nos fizeram mais fortes
Suas mordaças nos permitiram gritar alto
Seus exageros nos tornaram resistentes
Suas imposições nos fizeram criativas
Seus excessos nos coagiram a correr mais rápido
Seus domínios nos incitou à liberdade
Sua insistência nos levou à busca por ávidas conquistas
Sua força nos impeliu à capacitação intelectual
Sua ignorância nos trouxe resignação moral
Seus "ismos" nos presenteou com movimento lindo "feminismo"
Seu deboche virou broche. Broche na gola de cada forte mulher que trabalha cedo, que estuda tarde, que cria, procria, recria... A mulher que ama e perdoa, nasce e renasce, que se reinventa a cada obstáculo e de cada dimensão negativa pela qual expressas seus desconforto, uma dimensão positiva se traduz a nosso gosto.
De tanto nos chamar de frágil, nos fez firmes...
De tanto nos colocar atrás, presa ao braço, nos empurrou pra frente a lhes inaugurar novos horizontes.
De tanto subjugar, nos capacitou a recriar e surpreender.
Hoje começo a enxergar que nos olhares mais descrentes, o medo de ver que ontem queimaram sutiãs e hoje votam, legislam, julgam, estão em todos os lugares, pares, iguais.
Amanhã estaremos por todo lado, livres, desincumbidas de suas pechas ainda insistentes mas fadas a decair, desconstruir.
Vamos desfazer conceitos, questionar premissas, desmontar estruturas efêmeras, devassar limites sexistas, dilacerar diferenças e juntos, todos nós, compreenderemos que hoje estamos mulheres, amanhã homens, assim como vocês que ao passo que delimitam se limitam. Vamos então aprender, de uma vez por todas, que não há supremacia de gênero pelo simples motivo que essa dicotomia surge de uma construção social deturpada, cega e ignorante e que naturalmente vai sucumbir às pedaladas da evolução e não cabe mais, não há espaço e não tem mais o condão de anular, rechaçar, escusar e coibir a linda flor que surge da igualdade e fraternidade.

Fernanda,

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"Viva a história que você quer contar e se lembre que toda vitória oculta renúncias."

"Não olhe para trás, você já sabe onde esteve. Agora precisa saber onde vai, e por isso comece todo dia, tudo de novo."

Não são palavras minhas, mas sem dúvida são pra mim...

Sem remetente

Sou do "tipo" que escreve cartas.
Escrevo cartas todos os dias, algumas pra mim, outras pra você, todas pra ninguém.
Escrevo pra colocar pra fora, deixar sair, exprimir.
Não jogo mais embaixo do tapete, mas tenho plena consciência de que a ninguém cabe suportar tanta emoção, tanta sinceridade... Sei bem que a ninguém cabe o peso de deglutir minhas pseudo verdades e por isso não mando, não envio, não entrego.
Sem remetente são as cartas que me esvaziam ao tempo que me permitem ser completamente eu.
Me deixam expressar sem revés, expor sem vergonha, pedir sem resposta, julgar sem perdão, gritar em silêncio, machucar sem ferir, curar sem remédio.
Posso me arrepender sem ônus, mudar de ideia sem justificar, revirar-me sem pedir licença,  ir embora sem me despedir, posso"falar da boca pra fora" (ou seria escrever do teclado pra fora) mesmo sabendo que não corresponde exatamente ao que sinto ou penso. Posso mentir, mas não minto. Posso fingir, mas não finjo. Posso correr, mas eu fico. Posso calar, mas não o faço. Posso me esconder, mas me mostro. Porque é tão mais fácil quando nos permitimos ser sem melindres, manifestar sem recalques, ser sem pose. É tão mais leve e descansa tanto ser quem sou e não quem as pessoas esperam... É como chegar em casa depois de um dia cansativo, atordoado e estressante e tirar o scarpin salto 10 e o sutiã! Ahhh! Ser mulher tem seus escapes, ser Fernanda tem suas cartas... Cartas para o mundo, todo mundo. cartas pra mim e pra mais ninguém.

É segredo, mas vou falar

"Here comes the sun..." 
Essa música tocou hoje pela manhã e me permitiu esquecer a fatídica noite de ontem. Uma péssima noite, by the way, por causa daquelas rídiculas e chatas brigas de casal... Nesses mesmos momentos eu me pego refletindo se não seria o casamento uma verdadeira trama de desventuras em série; aquelas com um dia bom, dois normais, três ruins e 10 indiferentes a seguir. A matemática não bate e se afasta da lógica que supostamente fazem as pessoas não desistirem umas das outras. Acho que essa conclusão tem sido bastante comum, afinal, as pesquisas apontam dados assustadores sobre os casamentos desfeitos, superando o número dos realizados, em alguns lugares. Eu sei que é bem fácil mentir com dados, números e pesquisas mas olhe para o seu lado e veja quantos casais que você conhece estão juntos ainda, quantos não se separam por preguiça da dor de cabeça e, principlamente, quantos são felizes com o companheiro. É... assusta, não é?
Ainda ontem lembrei do Sr. Márnio que conheci na sala de espera do plano de saúde há algumas semanas. Sr. Márnio é aposentado da aeronáutica e poeta! Ao escuta-lo gabar-se (com toda razão) que no dia seguinte completaria 80 anos de idade e 60 de casado, não me contive e quase que por impulso indaguei-lhe curiosa sobre qual seria, enfim, o segredo para chegar até ali. Eu queria mesmo saber "como", de que jeito... Ele calmo e até bem rápido me responde sem hesitar, como que possuidor de uma resposta ensaiada: "Paciência". Insatisfeita com a resposta curta e um tanto vaga, retruquei relutante: "Só isso? Só paciência?" (até pareceu que isso eu já praticava com maestria... pareceu apenas) e de modo mais dedicado, com a sabedoria que só a experiência é capaz de produzir complementa: "Há dias que nem nós mesmo nos suportamos, quem dirá o outro e tem mais, um dia o outro somos nós mesmos" (ele pode não saber mas ele resumiu em meia dúzia de palavras o conceito luhmanniano de autopoise, incrível não é?!), e continuou: "Amor mesmo se transforma, muda todos os dias é preciso cuidar para que ele não mude demais, mas com o passar dos anos é inevitável que ele se torne uma imensa vontade de fazer o outro feliz, e depois evolui para uma profunda (ele deu muita ênfase aqui) amizade e essa amizade nos conduz a viver em paz dividindo nossos dias com quem está ao nosso lado. Cuidando sem querer nada em troca, pelo simples prazer de cuidar".
Sutilmente sorri pra ele. Todos da sala pararam o que faziam para dedicar-lhe a atenção. Meu sorriso dizia em silêncio, ante à ausência das palavras, que ele deveria estar coberto de razão, todavia, eu não saberia como concordar sem antes, aquilo tudo, viver.
interessante que ele terminou sua preleção de forma descontraída enquanto assinava seus papéis com uma frase que me marcaria para sempre! Disse ele: "o casamento é mesmo complicado, não digo que não, mas não é um jogo. Jogo não é! Não existe jogo de um time só e casamento é um time só e não uma disputa. É cansativo viver em disputa. Ninguém aguenta viver em disputa. Você percebe que 'paciência' é o segredo quando repara que o placar deve ser sempre positivo, ganha-ganha e até quando perder para que o outro ganhe sozinho, sente-se vitorioso".
Nem em mil anos terei a sensibilidade e maturidade emocional para compreender o sentido dessas palavras, tão simples e profundas ao mesmo tempo.
Sr. Márnio me enviou por e-mail uma poesia a qual chamou se "Ode à advogada" e senti-me abençoada por cruzar-lhe o caminho.
Foi refletindo sobre isso que me acalmei ontem. Depois de chorar, é claro (meu emocional é uma boneca de porcelana - frágil demais no momento), afinal percebo que a cada dia, a cada batalha, a cada texto ou reflexão me torno mais sensitiva, e isso não quer dizer sensível.
Refleti. Repensei. Não deixei a mágoa descansar inconsciente; não alimentei o monstro da indiferença ao sabor do desconhecimento do que de fato me machucou tanto naquele momento... Fui até bem fria ao pensar e analisar o que se passava dentro e fora do nosso "superego", precisava saber o que me doeu de verdade, se foi o fato/ato, palavra-muda, ou só meu orgulho ferido ou contrariado.
Conclui por uma verdade intrigante... (que 'paciência' pode até ser o segredo, mas onde é que eu compro isso?!) que eu acho que amadureci. Não ri não... é serio isso! 
Naquele momento eu me dei conta de que o que magoou e me fez triste mesmo é que ao amadurecer me tornei mais honesta comigo mesma e mais exigente também e não permito mais ofensas deliberadas e injustas, isso me entristece. Ao amadurecer percebi o quanto uma ofensa desmedida, desajustada, inócua, me ofende o brio. Já me satisfiz ao perceber que não era uma questão de orgulho, nem queda de braço, como muitos julgariam...
Revoltei-me com o autoritarismo, com a imposição do silêncio, da camuflada ordem de calar-me. Doeu porque fez calar o que passo a vida buscando falar, fazendo expressar. Cada um tem suas razões e justificativas para cada atitude, não discuto, mas me soa tão egoísta fazer calar meu coração, minha angustia, minhas justificativas, minhas verdades. Permitir isso tudo não revela apenas ombridade ou caridade, mas afasta a metáfora de que me fez sentir como uma lata de lixo, onde deliberadamente despejou um monte de porcarias e tampou com força, não me deixando sair, respirar, me livrar daquilo. Não quis brigar... Sério? Não brinca?
Deveria pois despir-se da bruteza do desabafo, da preguiça da conversa sincera, da palavra frouxa, do julgamento torpe, do cansaço infiel, do costume feio em falar comigo como quem bate um papo no trabalho. Deveria então cair fora da dicotomia em que vive ao sustentar princípio morais tão elevados ao passo que se permite dar apenas à medida do que recebe, fazer conquanto que o façam com você, revidar criativo ao argumento de que apenas 'dança conforme a música'. Assim estará fadado à injustiça sob o pseudônimo de 'igualdade', ou não sabe que se trata na verdade em dar tratamente desigual aos que desiguais são.
Será que isso não o relegará, não tarde, ao vazio se sentir-se só rodeado de pessoas, por mover-se por uma "ideologia", "política" ou hábito de pequenas disputas, cujos adversários vão ter que lhe dar com sua vingança criativa por não aceitar ficar por baixo, fazer mais que o outro, ser melhor que o outro? Tudo bem, eu sei que essa pode apenas ser a forma que você encontrou para exigir um tratamento mais corrento dos outros para si ao invés de falar, se expressar e muitas vezes, simplesmente pedir... Tenho certeza que existe uma razão lógica por trás, mas a questão é: ela não está dando certo pra você mais, nem pra ninguém que lhe cerca.
Eu não briguei. Eu não julguei. Eu sequer "desobedeci" seu grito imperativo baldado na ameça de levantar-se e não tornar a dormir ao meu lado naquela noite. Eu calei, como você mandou. Alto, bravo, macho. Egoísta demais para ver que quem mais perdia era você. Surdo demais para escutar seu próprio recado. Indiferente demais pra refletir sobre tudo e se limitou a pedir desculpas pela palavra invariavelmente pejorativa que descuidou-se em proferir. Ao fim ao cabo, não me contive, levantei então porque seria ultrajante virar para o lado e dormir, calada, subjugada e negligenciada à um pedido inexpressivo de desculpas relativo a uma palavra "mau" dita.
Poderia lhe explicar que o que feriu foi o tom crespo com que me tratou. O julgamento espúrio sobre minha conduta (sou isso mesmo ao seu ver?). O que foi foda engolir foi o ar arrogante, cheio de razões e detentor da verdade. A postura altiva e fracassada de quem se permite o direito de falar o que pensa, com tamanho desmazelo, ao passo que se recusa a ouvir. O que me arrasou foi a disput. Você sempre disputa comigo. Sempre em um jogo de adversários, cálculos sobre o próximo criativo movimento, se julgando esperto demais às avessas, ao punir, censurar, revidar. 
Se sequer fosse capas de ouvir isso tudo e não se ocupar com o planejamento da resposta à altura, perceberia que nos últimos 3 dias, bancou o criativo, o inteligente, o justo, várias vezes... (ou andar pelado pela casa lhe é característico? Não errado e sinceramente, seria bem engraçado se fosse genuíno, não como fruto do seu jogo: "me calo mas não consinto e você vai ver").
Não lhe parece mais honesto com os próprios princípios, ou mesmo, mais criativo e inteligente repensar sua maneira de agir?
Ao fim, ao cabo, não poderia lhe falar tudo isso, não conseguimos ser sinceros, reciprocamente, a tal ponto, por razões bem óbvias depois do desembaraço dessas linhas. A essa conclusão, infelizmente, você só vai conseguir chegar ouvindo, não rebatendo, retrucando, montando o quebra-cabeça do argumento contrário cheio de razões que lhe aumentaria o placar. Precisaria perceber que é ruim tratar os relacionamento, quaisquer que sejam, como um jogo onde a criatividade do seu revide te faz mais especial. Imperioso que escute! Me escute! Porque sou eu quem está ao seu lado todos os dias nos últimos 10 anos, sou quem quem dorme, acorda, te analisa, te descobre. Eu quem convive, vive e revive suas artimanhas, percalços, fantasias, ilusões... Sou eu quem te olha e vê por trás da força que pretende demostrar... Os elogios carregados que escuta no seu trabalho, no centro ou sei lá onde, em parte, claro, bem verdadeiros eu bem sei, mas em parte superficiais demais para que se apegue e se apoie... Ou todo sabem o que diz o seu olhar observador, sua fala irônica, sua REação calculada à paga, sua palavra firme que expressa o contrário do sentido?
É ontem eu calei. Contra todos meus ideais e ideias, guardei pra mim, me deixei assim. Calei por uma razão sistemática e consciente: o motivo pelo qual você deveria me pedir desculpas  é muito mais sério, profundo, complexo que aquilo e por caridade, honestidade precisarei dizer-lhe em momento oportuno para não permitir que me esvazie ao seu bel prazer ou como satisfação de um capricho. Não queria brigar... Sério mesmo? Seria esse o pior dos seus problemas? Veja só o que isso nos custou, me custou e te custou. Você pode até ter razão em querer cessar por ali o que viria a ser um debate sem pé nem cabeça, mas o certo seria encontrar uma forma qualquer mais cuidadosa ao falar, e não reservar-se ao direito desmazelado de cuspir e correr.
Não posso permitir que me faça isso de novo. Percebe que se eu permitir agora, fatalmente me anularei amanhã, me reduzirei a ninguém, nada do que penso que sou, que quero ser... Te darei na mão o direito de se imiscuir do respeito de reclame mais profundo que existe: o de que o seu limite termina onde o meu começa, e esse, meu caro, você não pode ultrapassar e por isso mesmo eu posso falar, eu devo, preciso à justa medida que se reserva ao mesmo. Isso é básico, princípio. Errou rude!
Esse nó amargo ao pé da garganta, agora traduzido, a revoltar-me o peito me fez ver que, mesmo que muitas vezes confundamos, existe um linha que define nossa individualidade e separa o joio do trigo, afasta o meu do seu, o que é seu e o que meu. Meu limite rígido. Seu sinal de "pare".
Respeitei você da forma mais justa, genuína, sincera e paciente que me coube. Percebe que noutros tempos, em face da imaturidade da dor e do amor, me sentaria na cama e me debruçaria a proferir-lhe questionamentos e palavras duras e extremamente inexpressivas, choraria compulsivamente e aí sim você se levantaria da cama. noutros tempos, a "impulsiva" aqui, cederia ao orgulho, à honra, ao desejo inefável de dizer o que pensa e fazer com que mastigasse aquela ameça com farinha... Mas não o fiz e não me arrependo. Guardei pra mim e levantei. E agora, sem impulsividade, sem arrogância, mais verdade que reflexo, mais ação que REação, mais maturidade que vontade, mais paciência que vontade de ganhar o 'jogo', sem julgamentos cruéis e impensados, sem pretextos egoísticos, sem pose imperativa, sem arrogar-me ao discurso frívolo, direi a você o que me causou e que não! Não aceito isso. Não dormirei sob o manto da imposição, mando, despejo do seu deságuo. Se quiser continuar criativo, à vontade, desde que isso não me toque a dignidade.
Ah! Quem me dera fosse apenas o uso de um termo descuidado a razão de todo mal.
Amadureci e vi que não sou mais aquela moça teimosa, inconsequente, impulsiva, impaciente que cede à luta, que entra na dança, que prefere ao fogo do degladiar-se ao custo calma da reserva de si para conhecer suas próprias fraquezas e descobrir a própria força. Amadurei mesmo e percebi que já sei definir meus limites e com o coração e a mente em paz exigir-lhe o cumprimento.
Você não quis brigar, tendo brigado. Me silenciou para poupa-se, tão só. Me guardei e resumo pra você nessas palavras: Não quero disputa. Não quero jogo de bate e rebate. Não quero sua injustiça mascarada de suposta igualdade, não quero sua reação calculada à custa de truques supostamente criativos. Hoje eu sei quem sou e quem pretendo me tornar e enfrentar você nesse eterno jogo de placar inconstante e disputas exaustivas não faz parte disso. Vamos viver a vida em consonância àquilo que pregamos e cremos...A pergunta é: quer vir comigo ou contra mim? Porque o Sr. Márnio tinha mesmo razão, o nosso amor também vai mudar muito e se não guardarmos o respeito, o desejo gratuito de ver o outro feliz, o que nos restará, portanto?
Pesado isso tudo. Denso demais. Mexi no barro que mora ao fundo do lago e fiz subir à superfície para que vejamos, senão, reconheçamos pois a necessidade da limpeza, faxina, restauração.
Aí me lembrei da música do momento (aquela que escuto mil vezes por dia - Ai como sou musical) que diz assim: "Deixa. Deixa mesmo de ser importante. Vai deixando a gente pra outra hora e quando se der conta, já passou... Quando olhar pra trás já fui embora."
Não seria isso, evitado pelo exercício sincero e constante da paciência? Paciência pra falar, para ouvir, para conversar, mesmo que difícil seja... Paciência... Um casamento vive e viverá sem paixão, sem sexo, sem grana, sem teto, mas o que é do amor se não houver paciência? Não existe, oras... E concluo como comecei: Será possível um casamento revelar-se em meras desventuras em série? Ou no amor, quer dizer, no exercício incansável, inafastável, permanente da ' paciência'?

"Respira, vai.
Não pensa no revide agora não.
Não se ocupe de argumentar com tudo pra que não saia perdendo.
Por favor, não de desgaste agora montando seu discurso ou calculando o próximo passo.
Não se sinta por baixo, não se sinta menos, não se sinta subjugado, desrespeitado, não é bem por aí mas não consigo com as poucas palavras que conheço lhe dizer isso tudo...
Não se encha de justificativas que, ainda que palatáveis, eu sei, rebateriam meus sentimentos e essas baboseiras que escrevi.
Não se muna, eu imploro, com a arma que cega, emudece pelo orgulho... Escuta só.
Deixa... Volte ao início, lê de novo se preciso for, finge que nem sou eu quem disse e procure refletir, pensar e ver... Amanhã ou depois nos dedicaremos às suas queixas ao meu respeito (são tantas eu sei), vamos falar da sua ombridade em me suportar, da sua caridade em me ajudar, da sua paciência comigo e como você se revela mais príncipe do que sapo e por isso eu o amo, mas eu preciso ser seu espelho pra que reflita as mudanças, os caminhos, os erros e os acertos para que se modifique, se melhore, consciente quem realmente é. 
Me deixa pra outro dia e pense em si mesmo, não me peça silêncio, novamente.
Você me conhece bem e sabe que sou isso aqui, desse jeito, sem maquiagem, sem sorriso pra foto, sem legenda, sem rima. Sou fala, expressão, escrita. Sou a conversa, a confessa. Sou sem competir. Sou eu sua dizendo que ontem eu guardei tudo e confessei agora, aqui, que se permanecer guardado afasto de mim minha essência, minha verdade, meu brio, minha dignidade. Deixo de ser sendo o que não sou. 
Engano. Me engano e te engano.
Jurei a você fidelidade, lealdade, companheirismo a vida toda, e mesmo que ele se mostre ruim, às vezes, até aqui cumpro minha promessa e por isso me despi de tudo e disse-lhe o que se passa aqui dentro. Não sei nem se te importa, mas eu espero, sinceramente, que sim.
O que será fidelidade e lealdade senão ser pra você tudo o que eu gostaria de ser pra mim, sem máscaras, sem placar, sem postura, sem medo, sem compasso, sem silêncio. Estou apenas sendo eu pra você porque tudo o que eu mais quero é ver a sua melhor versão estreando nesse mundo afora.'

E vamos os dois cantar:
"Olha lá, quem acha que perder é ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória 
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar
Pra não faltar amor"
(Um vencedor - Los Hermanos)

segunda-feira

Escrevo por mim, e não para mim.

Me amparo na certeza de que a grande maioria das pessoas que eu conheço se eximem de conhecer a si mesma ao sabor de uma existência premiada de nada ser, em que pese se mostrem cheias "de si"!
Em tempos de facebook, verdadeiramente "ser" e não apenas aparentar ser e ter, representa uma "indiossicrasia contrádiória" do ponto de vista social. 
Nossa! Ficou bonito isso, parece até um termo científico-sociológico... Mas não é, sendo, portanto, no sentido literal, um comportamento peculiar de uma pessoa em face do ambiente sócio-cultural em que esta inserida, afinal, são tantas selfies, frases de efeito, emojis que falam mais que palavras, mensagens de texto que expressam mais que um olhar, uma vida 'feliz-rica-harmoniosa' que é inevitável não postar!
Mas ninguém te disse que isso tudo é raso. 
Pessoas rasas. 
Palavras vazias.
Pose.
Palco.
Platéia.
Pra inglês ver. 
Te pergunto: quem é você? Olhando para o celular, com os dedos nervosos, levanta a cabeça, assustado, me encara sem entender-me como locutor. Questiona-se -antes de atualizar o 'status' (sentindo-se pensativo, seria)-: "Será que está falando comigo? Falando?" Olha para trás, não vê ninguém, sorri de mim e segue seu caminho.
Tudo isso para expressar que, sem conhecer a si mesmo, vivendo de maneira impensada e superficial, qualquer coisa que expresse é raso, hipócrita, vazio demais ao ponto de que uma pergunta simples soa como engano. Engano meu, engano seu.
É... escrevo porque escrever me faz sair do raso e mergulhar em mim.
Faz com que eu me afogue, me recupere, me desfaça e refaça. 
Escrever me desnuda, me tira o brio, não faço o 'social'.
Saio do palco, tiro a roupa, lavo o rosto, saio de mim e olho pra dentro.
Quando olhamos para dentro enxergamos o tudo o que somos e o nada, ao mesmo tempo.
Não é um paradoxo, é uma apreensão.
Escrever me tira a obrigação... da fala certa, das palavras justas.
Palavras que consigam expressar sem machucar. 
Quando escrevo eu apago até conseguir continuar.
Escrever me protege do tempo escasso pra dizer o que sou, me reserva dos ouvintes curiosos (apenas).
Escrevo porque é a forma que encontrei de me desmascarar, de me tirar do exterior e me levar para o interior e lá que tudo realmente acontece.
Escrever é o jeito que descobri de ficar parada e percorrer uma imensidão de sentidos.
Me permite ver o que sou e não o que aos outros permito.
Escrever é o reflexo mais translúcido que existe, revela a alma... Mostra o que poucas vezes, pelos olhos físicos é aferido.
Escrever sobre si é ver com os olhos do coração sobre quem se é, e isso não reflete no espelho.
Escrever me tira do centro, me tira a expectativa e faz com que de maneira pura, sensata e simples eu sinta.
Não é um passo largo de transformação, é um exercício constante de descoberta, desconstrução.
É um caminho...
Porque é preciso se ver, sem plateia, pra descobrir o que sente e como sente e depois decide o que fazer com isso.
Escrever desbota a aparência e revela-me a essência.
Escrever desabotoa e mostra dentro...
Escrevo porque sou o que sinto e não o que penso.


O primeiro de muitos - O dia em que encontrei meu primeiro cabelo branco.

É porque não estou afim de estudar agora e resolvi escrever sobre o "primeiro de muitos" os cabelos brancos que encontrarei na minha cabeça...
Mentira! Não foi exatamente o primeiro. Já havia vislumbrado a insistência de um ou outro, tentei pinçar e se perderem, fingi que não vi, logo, oficialmente, hoje foi o primeiro que arranquei, branco da raiz à ponta. Ainda ontem brinquei com o maridão que, lindo como sempre, já permite despontar seus primeiros também que, agora, julgo até tardio, vista a hodierna inauguração.
Para muitos isso é algo que passara batido, não merecendo nenhuma ressalva, mas não pra mim... Por que não? Simples... Representara um marco bastante especial e, como de costume, explico.
Aula de Direito Penal na escola do MP, concentração à pino, preocupações outras enroladas na minha cabeça, dentre elas, lá estava, à flor do meu primeiro quarto de século, um alvo fio de cabelo a revelar-me o tempo que já havia passado. Aparição genuína, incontestável, ainda que eu quisesse procurar justificativas que pudessem de algum modo protelar a verdade que ela despontava: o tempo passou e a idade traz consigo não só experiência, a maturidade vem com um brinde chato e grudento que chamo de frustração. Uma frustração que decorre da pesada mão social que nos aponta a obrigação de haver conquistado o mundo aos vinte e poucos anos; frustração nascida no berço da graduação concluída e o emprego tardio ou indignante - no meu caso, do não emprego-, o preço do sonho buscado, da insegurança financeira ou mesmo dependência insistente, o medo da possibilidade de não chegar lá! 
"Chegar lá"... O "lá" tão almejado e o "chegar" tão desgastante e cansativo. Essa expressão define nossa ilusão ou expectativa no porvir como se ele, por si só, fosse capaz de mudar nossa vida em face do aguardo.
Lembrei-me, naquele curto espaço de tempo, do quanto eu sonhava, aos 11 anos em ser adolescente... Maioria das pessoas que conheço almejam chegar a vida adulta, mas a mim bastariam os 15 anos. Pensava que meus cabelos seria maiores e mais lisos, minhas espinhas deixariam de ser tão horrendas, que aquele garoto do segundo ano finalmente iria me olhar e me ver de fato. É claro que nada disso aconteceu... Aos 15 anos eu já esperava ansiosa pelos 18, quando eu tivesse independência, dirigir sem medo de blitz, comprar, comer e fazer o que quero... Quem foi o retardado que nos disse que isso acontece aos 18? Estou com 25 e não aconteceu ainda!
È... mas os "18" mudam muito tudo, dentro e fora de nós, uma gradativa, é bem verdade, mudança que nos revela não quem nossos pais gostariam que fossemos, e nem quem imaginávamos que seríamos, mas quem realmente nós somos até ali, inaugurando um longo caminho em busca do "eterno vir a ser".
Nessa época comecei a graduação e já escrevi aqui sobre como da água, vinho me tornei, tentando expressar como o Direito mexeu, modificou, virou de pernas para o ar e fez acontecer dentro de mim, já escrevi sobre isso e não vem ao caso retomar... A faculdade me despiu e me vestiu uma toga preta, e ainda hoje venho buscando as cordinhas vermelhas...ou verdes! =)
Me desnudei de muitas ilusões, me embebedei com outras, mergulhei em ideologias, me perdi na filosofia, pensei, pensei, chutei a porta, saí da caverna e me enveredei por um caminho que ainda há me desfazer e refazer como em um passo de mágica, me revolucionando a cada dia. São tantas revoluções que, por excelência, não confio mais no que eu penso, porque vou mudar minha premissa logo na curva, e depois dela sabe-se-lá o que virá!
Cabelos brancos... Ah é! Volta aqui, ó!
Não poderia mais, depois de tudo isso aí, dizer que me iludia, estava tudo tão mais claro, todavia tão, mas tão distante que fui construindo ao longo do caminho uma lagartinha "feia que dói" e eu a alimentava com dúvidas. Isso mesmo, uma dúvida sobre o que eu era, o que eu faria, como iria viver, além de algumas preocupações azedas quanto às expectativas das pessoas que me cercam e com isso responsabilidades sociais, familiares e minhas íntimas-profundas-duras expectativas pessoais. Era tudo uma grande dúvida. Me alertou ele: "vai fazer o que quando terminar a faculdade?", preferi nem pensar porque sabia eu que daria de cara com ela "a grande dúvida" revestida do "porvir" que incansável, me perseguia até ali.
A faculdade chegou ao fim, oportunidade ótima para lagartinha feia deslavar a minha frente que a dúvida que eu tinha outrora ainda estava ali, tecendo a realidade da qual eu não mais conseguiria me esconder: trago muito dentro de mim entre desejos e aspirações, até mesmo belas lições e bonitas intenções, mas nada eu tinha e (ainda) nada era. Isso corta feito faca.
Corta a alma saber que o tempo passou, mas uma vez, como haveria de ser, já estava com 24 anos e eu já trazia na mala preciosidades, desgostos, experiências, vontades, certezas e dúvidas. Muitas dúvidas. 24.
Eram 24 anos, casada com o amor da minha vida, conquistado à luz de muita dedicação, morando na casa por nós construída, sob a égide de esforços cujo o gosto, só nós provamos (agridoce, by the way) e o Marvin.
Não vou negar que nesse quadro que pintei até aqui, a paisagem é bonita, pela janela vejo meus amores, e eu... eu já não tenho mais dúvidas! Troquei minha "grande-bruxa-dúvida" por uma certeza que serviria de mola propulsora. Uma certeza azeda que me tira de onde estou e me joga pra um caminho, caminho duro, doído, amargo muitas vezes, caro e impiedoso caminho de maturação intelectual, de construção de um patrimônio íntimo e profissional, gestado por um sonho e amparado por um ideal.
Aquela lagartinha agora estava vestida em um lindo vestido de linho nobre e claro, caro. Pense em um vestido caro! É foi assim que ela se apresentou agora, e sorrindo me dizia para ter um pouco mais de calma (ainda não consegui, inclusive)... Agora sonho com essa lagartinha teimosa trajando vestes talares. De beca preta e no pescoço um torçal de seda vermelha com uma borla na ponta, caindo sob o peito, representando um ofício... Na minha cabeça a imagem ficou engraçada! Ah essa lagartinha...
Não sei se melhorou ou piorou o panorama pois que, ao arrepio das minhas inúmeras limitações intelectuais, emocionais, financeiras, me estabeleceu um alvo. A carreira profissional. A mais difícil, distante, concorrendo com as mentes mais brilhantes da seara jurídica do país. O MP. Não sei se a lagarta sou eu ou esse alvo assustador o qual estou a trilhar...
Agora, com parcos 25 anos tenho nos ombros um milhão de motivos para deixar pra lá e no coração uma paixão digna de romances inglesses do século 18 que, de modo irrenunciável me exaspera a chegar lá.
Aqui de novo o "chegar lá", tão iminente, tão incerto em sua essência, certamente... Nesse momento, caminho, a passos lentos, à duras penas... Não se se vou me abandonar ou se vou insistir em mim, não sei se ele vai continuar acreditando em mim, ou até quando. Não conheço o limite das minhas forças. Desconheço minha resistência, pela simples razão de que nunca quis testá-la.
Todavia, a bem da verdade é que estou me pondo à prova. Estou me questionando, me irritando, me testando, me obrigando, me impelindo... Estou me buscando enquanto busco o "porvir".
Com minha (pouca) idade, o "porvir" não vem mais fantasiado de expectativas adolescentes, vestindo a roupa de um sonho efêmero de ter o que não tenho e não me engano com a cadeira de platéia. O que ponho a prova sou eu mesma, minha real expectativa sobre mim em face da minha capacidade de buscar, minha necessidade de ser o que ainda não sou e a consciência de que tudo isso depende de mim. Aí mora o medo, medo de não dar. Medo de não chegar... Porque não posso mais "culpar meus pais por tudo", não tenho como me esconder, não posso mais dizer que "não quero mais" (isso seria uma mentira pra me escusar da conquista), não dá mais pra jogar a toalha sem aceitar-me como fracasso porque, naquele quadro que pintei e ainda pinto existe uma fatura de cartão de crédito na bolsa, um caro manual de processo penal para comprar, um desejo irremediável de passar o ano novo em Paris, um bom gosto para sustentar, a conta do supermercado, o seguro do carro... Não são apenas ideais que me movem, isso seria bastante hipócrita afirmar. Junto do sonho, caminha um dever, uma responsabilidade a qual já me atraso... Uma vida que essa lagarta vem tramando dia-a-dia... Uma vida adulta demais que não me deixa me trancar em uma biblioteca o dia inteiro.
Aqui chego em um ponto no meio do mar. Não mais o ponto final (final da graduação) que também representou o ponto de partida (busca pela profissão)... Estou no meio do mar, longe pra voltar (e nem quero), longe de chegar (chegar lá). Nadando eu vou, perdida muitas vezes, sem conseguir ver a praia, cansada, insegura, sem grana, e pasmem: com cabelos brancos.
O fato é que movida por expectativas (irreais, diga-se de passagem) passeio por lugares incríveis, coleciono outras dúvidas mais e mesmo com a certeza do porvir, não sei se vou colocar naquele quadro a profissão dos sonhos, pode ser que eu me pinte de avental e não beca preta (não que avental seja menos ou não, só não corresponderia com quem sou por dentro e pode ser essa contradição me deixaria triste). Fato é que essa lagarta pode ser minha minha meta e eu estou muito nova para desacreditá-la, apesar dos cabelos brancos, e temê-la, apesar do histórico de não persistências, pois que, como já reconheci, muita luta me aguarda, é certo, muito medo ainda vou enfrentar, até enxergar que essa lagarta que me segue por toda a vida é o reflexo imaturo da borboleta que pretendo me tornar.

domingo

Ontem eu chorei...

Ontem eu chorei de verdade. Chorei com a alma. Chorei sozinha. Chorei angustias mais reais que eu pudesse imaginar.
A bem da verdade eu senti saudade das vezes que chorei por chorar, por emoções simples e repentinas. Tristezas mais dramáticas e transitórias do que eu supunha.
Mas não foi assim ontem...
E como de costumo, volto pra esse universo só meu, sem ter que manter a pose, o close, o sorriso superficial, o otimismo disfarçado, sem sustentar o teatro da vida, colocar pra fora aquilo que me aperta por dentro.
Eu venho crescendo, sabe? Parece uma conclusão lógica mas no fundo representa uma transformação visível a mim mesma, entende? Sabe quando vc mesmo percebe que amadureceu, aprendeu, conheceu, sabe do que se trata e daí até seus sentimentos ficam mais conscientes, reais, e mais duros também.
Tenho sido tão dura comigo mesma, colecionando "pedras", dores, mágoas, decepções, pressões... Tenho sido tão cruel comigo mesma, aceitando situações tão humilhantes, degradantes, desprezíveis mesmo. Tenho sido tão irracional que estou me permitindo sonhos muito mais altos do que sei que posso voar. Me sustento com frases feitas de auto-estima e me apoio sobre elas por um caminho muito mais difícil que aquele que me convenço.
Tenho sido uma péssima companhia pra mim mesma à medida que aceito o que não gostaria de ter que aceitar, mas por falta de opção, "vá lá"!
Tenho sido péssima companhia aos que me rodeiam, pois me sinto como uma panela de pressão que a qualquer momento vai explodir com alguém em surto rápido e doloroso de impaciência, frustrações, e uma raiva impiedosa que finjo que passa. Mas fica. estou colecionando raiva das pessoas. Isso esta me enchendo.
Tenho esperado palavras de incentivo, gestos de apoio, olhar confiante, suspiro de força do meu marido, e não tenho mais isso. E pior é saber que ele tem toda razão de desistir mesmo e isso é fatalmente uma obra minha.
A pouco escrevi sobre a triste realidade que os filmes da disney não contam mas que muitos já descobriram: o amor acaba mesmo, é foda, é triste, é desgastante, é um saco... Mas fazer o que? O que você, eu ou ele podemos fazer? A vontade que dá é de jogar tudo pra cima mesmo, começar do zero... quem não quer ver olhos brilhar ao chegar,  coração palpitar por ouvir, sorriso largo se estampar por saber que está ali, a alegria da sua vida?
Mas desistir parece uma fraqueza moral que tentamos remediar... Começar de novo é protelar as dores que sentiremos no futuro, novamente. Amor tem prazo de validade, todos eles. Não sei se é inteligente começar de novo e sofrer da mesma forma... Eu só espero que esse vazio que sentimos agora não sejam ocupados por outras pessoas e sem muito pensar na inteligência de fazer de novo, faremos por estar apaixonados... Ai como é bom sentir paixão... Que saudade disso.
Mas voltando ao assunto... eu ia contar sobre o que aconteceu ontem e já estou divagando por esse caminho escuro do amor.
Contextualizando, me propus fazer um curso que é conhecido por ser super difícil e daí conclua que é de fato enlouquecedor! Muita pressão, muito conteúdo pra estudar sempre, muita coisa na cabeça, pouco tempo pro resto da vida... É mesmo a coisa mais absorvente que já me prestei na vida. Mas eu tenho ideias "geniais" e claro que eu não escolheria outro que eu soubesse ser capaz de fazer, escolhi o caminho mais maluco possível, e isso já é quase característico meu.
Minha avó é quem paga o curso (bem caro, diga-se de passagem), e ela o faz por acreditar em mim, por acreditar que isso vai de fato mudar minha vida pra melhor, que isso pode ser um passaporte pro sucesso, e de fato faz mesmo parte de um caminho bem sucedido, mas ora, estamos falando de mim, né, não pode ser tão leve, então.
Pra aumentar a carga da "pedra" que carrego nas costas, recusei um proposta de emprego! Na verdade recusei duas... Aí você pode pensar: "como assim a pessoas reclama tanto sobre a vida pessoal, financeira, profissional e simplesmente sai recusando emprego por aí?"
Bom, lendo com carinho a história por trás, isso fará mais sentido que aparentemente, o problemas é que não costumo escrever sobre os episódios bons da vida, os dias felizes e as conclusões mágicas sobre minha existência, aí fica difícil compreender o que me fez agir assim, e a, rapidamente introduzo o simples e 'irrelavante' (ou não) fato de que me apaixonei! Me apaixonei pela carreira de Ministério Público! Me encantei, me motivei, me enchi de vontade como nunca antes, e estou sonhando, idealizando e tentando, aos trancos e barrancos, chegar até lá. Não sei bem como, tão pouco quando, mas é pra lá que estou indo... Eu acho.
Totalmente incompatível com o curso (super mega absorvente) e com o sonho (distante, aparentemente intangível) seria começar a trabalhar até às 22 horas... Porque nenhum escritório vai fazer caridade pra advogado iniciante. É eu sei, foi uma das escolhas mais importantes da minha vida. Diante de uma encruzilhada, foi ali que decidi que rumo tomar. Não sei AINDA porquê, mas foi fácil escolher, pois toda vez que pensava em deixar o curso, o sonho, e os planos meu coração se revirava no peito, doía, incomodava tanto que não queria nem pensar. Deus sabe o que faz... Deus sabe pq me fez sentir aquilo... Eu não sei mesmo.
Certo... Nesse cenário, mais um peso pra coleção, recusei um emprego bom, remuneração boa, e estou cá, continuo pesando pro marido, e ele continua com a comum descrença, preguiça e cansaço de me levar nas costas. Isso me mata! Mas é o preço que preciso pagar...
Curso difícil, sem dinheiro, casamento em declínio, minha cabeça tendo que focar nos estudos e eu ficando doente todo dia... Cada hora uma coisa dava errado... Acho que meu  corpo já estava me pedindo calma, eu não ouvi. Segui correndo, correndo dos tratores que me perseguiam e ameaçavam me atropelar, e eu fui ficando esgotada, fisicamente, intelectualmente, emocionalmente... E vocês sabem: sou feita de emoção, sou consumida por ela, e quando essas emoções são ruins se tornam minha maior fraqueza.
Caminhando por uma semana de enorme pressão por fazer a prova mais difícil do mundo (perdão da hipérbole), depois de uma briga boba com minha mãe, a qual atraio a responsabilidade pois sei que estou muito ansiosa e nervosa com tudo isso... Pedi desculpas já. Voltei pra casa... Fui deitar com uma indiferença enorme dividindo a mesma cama que eu, e tudo desabando "dans ma tête", olhei pro lado e pensei: "Tenho 25 anos. Sou jovem ainda, não estou tão feia quanto eu digo em voz alta, sou até gente boa, penso, porque não estou feliz? Porque esse homem do meu lado não está feliz? O que estou fazendo errado, meu Deus, me diga pra eu mudar o quanto antes!!!"
Não aguentava mais essa sensação de fazer tudo errado sempre (hipérbole, sua linda!), frustrar todas as pessoas que me cercam, inclusive eu mesma, fraquejar quando não posso, desistir quando aperta, largar mão quando canso, estou cansada de não ser quem eu preciso ser e que as vezes não quero. Cansada demais pra ouvir que pequenos erros meus são grandes demais pra alguém e que isso, por si só tem o condão de me destruir.
Estou cansada de não conseguir fazer o que é preciso. Cansada de ser pequena, pouco, quase nada...
Cansei. E do cansaço surgiu uma dor no peito, física mesmo, que não sei bem explicar... Parecia  que eu estava embaixo de um conteiner, uma pressão no peito, uma falta velada de ar, um mal estar... Levantei pra tomar água e ao chegar na cozinha, me desabei em prantos, um choro sofrido, comprimido, sufocado, pesado. Sentei-me no chão e com uma angustia enorme me invadindo, olhei pra cima e pensei: "o que estou fazendo com a minha vida? Quem sou eu, o que permito que as pessoas me façam, me digam, me cobrem? o que está acontecendo comigo? o que é isso que eu estou sentindo?"
Calei o choro, respirei fundo, e voltei pro quarto. Ele estava comigo, digo, no mesmo lugar, há pouco mais de 20 cm de distância, mas eu estava completamente sozinha. Mesmo depois de um sincero desabafo, sinceridade demais, meu sumo exposto, ele dormiu, leve, despreocupado e não pensou, não viu ou não quis ver que eu estava ali, bem perto, em pedaços, gritando por ajuda, apoio, força, carinho, atenção, amor... Não tive, ninguém estava ali pra juntar meus pedaços, pra me olhar nos olhos e me inspirar confiança, pra me dizer o que eu precisava ouvir, pra me puxar no colo e me permitir chorar, chorar tudo, chorar com um cafuné na cabeça, com uma presença me rondando, mesmo que sem dizer nada, eu estaria sentindo as doces palavras que só poderiam sair de um relacionamento feliz dizendo mais ou menos assim: "está difícil pra você, eu sei, mas eu estou aqui, com você, do seu lado, confiando em você e sentindo que você é capaz."
Não ouvi, não senti o cafuné, não tive colo pra deitar e sabia que eu havia chegado no meu limite emocional, mas peguei no sono... Dormi pesado e como em um piscar de olhos acordei.
Há poucos minutos da fatídica prova, levantei da cama, do lado do estranho que dormira comigo, sai do quarto em silênico e ao ver a luz do dia tive a certeza de que não estava passando bem, sentia meu corpo todo rígido e fraco. Cheguei pra fazer a prova e ouvi minhas amigas, horrorizadas, me perguntarem o que havia comigo, eu aparentava estar cansada, arrasada, com cara de choro; justifiquei da forma mais óbvia possível (eu sendo concha, pra variar), dizendo que estava preocupada demais com a prova e não havia dado tempo de estudar tudo e eu estava muito triste com isso.
Estava sentindo uns arrepios nas pernas toda hora. E no caminho pra sala começou o drama! Eu  estava tremendo, coração palpitando. Meu Deus do céu, nem quando apresentei monografia eu não estava assim, oab muito menos, o que é isso por causa dessa prova?? Mas não era apenas a prova... Eu estava em frangalhos ali, lançando mão do meu último suspiro de força entrei, fiz a prova, um desastre mesmo, estranho seria se fosse diferente.
Saí de lá desnorteada, meu pescoço doía, e fui para o carro, sem ver ninguém, desviei o caminho, fui de fininho, estava quase desabando, para pra falar sobre os pássaros seria o fim! Vim dirigindo chorando, mas eu estava calma, meus pensamentos a mil por hora, muita coisa passando pela minha cabeça, muitas ideias muitas conversas, o episódio da noite passada me amargurando, fui pensando nos termos do divórcio, me convencendo de que estar com alguém para não ficar só é a pior solidão que existe e eu estava provando dessa solidão... Mas logo corrigi minha postura e pedi ajuda a Deus, rezei, pedi calma, sabedoria, paciência.
Nem me lembro do caminho que percorri, eu estava sem chão, pensamentos foram começando a me sufocar, eu não estava conseguindo pará-los, queria deitar no escuro, mas sabia que se assim eu fizesse, minha cabeça enlouqueceria.
Cheguei em casa lá está ele na piscina, preocupado demais comigo (pena que não). Fui lavar louças para mudar o foco, e foi piorando o que eu sentia. Foi me dando mais e mais falta de ar.
Deitei, chorei... Ah... como ontem eu chorei... Chorei sentindo. Chorei sofrendo... Tristeza maior não houve, sério mesmo. E aí voltamos ao início da história.
Percebi que a falta de ar foi piorando e o peso no peito também. Parecia ser esse o motivo da falta de ar, inclusive. Sem conseguir para de chorar, comecei a sentir dormência nos braços. Digo dormência por não saber palavra que exprimiria melhor, mas era uma sensação muito estranha, talvez pior que dormência, cãibra, sem lá... Engoli o orgulho e vim na sala pedir ajuda para ele. Transtornada. Recolhi minhas últimas forças e voltei pro quarto, sem amparo. Deitei na cama e tudo girou. A dormência estava nas pernas, eu estava tendo algum grave problema de saúde, eu estava vendo tudo como um filme em câmera lenta, o sofrimento lento, não passava, minha boca estava forçada pra baixo, sei lá, eu não conseguia esboçar outra expressão facial (isso foi bem estranho), a dor no peito parecia fome, sabe?! Quando sente tanta fome que dá uma dor entre as costelas, sei lá. Muita dormência, pernas e braços, não passava. Me paralisava. E eu chorava... só chorava.
em algum momento ele apareceu no quarto e parado na porta com alguma indiferença perguntou o que podia fazer ou se eu queria que me levasse ao hospital, confessei que não sabia o que fazer. Da mesma forma que entrou ele saiu.
Continuei ali prostrada, com dormência nos membros, chorando compulsivamente, meus pensamentos em parafuso, não conseguia para de pensar em tudo, e isso ia se remoendo na minha cabeça.
Eu fiquei quietinha, me permiti sentir o grito do meu corpo pela minha displicência comigo mesma, chorei a angustia que meu coração não conseguia mais conter. Enquanto escutava a televisão na sala... Peguei o celular e pensei em ligar  pra minha mãe, ou alguma amiga. Estava muito difícil ficar sozinha, parecia que eu não estava reconhecendo o lugar que eu estava, não me sentia em casa, não me sentia segura, estava com medo, mas pensei que isso seria pior. Trazer outra doida pra minha doidura só iria piorar. Mas estava tão horrível e eu não sabia o que fazer.
Ele voltou, me perguntou o que era que estava acontecendo, e mesmo diante da minha resistência em falar sobre o que estava se passando em minha cabeça (que estava me pondo louca), ele insistiu, acho que por curiosidade apenas, falei pouco mais de 2 minutos e voltei a chorar sem parar. Ele deitou ao meu lado, em um toque sutil em minha mão fez uma oração, pediu ajuda também. Coitado. Ele também não sabia o que fazer. Pelo que o conheço ele devia estar pensando: "Essa pós vai deixar ela doida além de estressada demais, e esse choro todo é um pouco de drama também e não gosto quando ela chora. Acho exagero desse jeito aí."
Depois do meu pequeno, curto, silente desabafo, poucas palavras que falei, acredito que um tanto desconexas, ele me disse pra eu soltar essas "pedras", deixar o peso um pouco... Me sentir calma, e sem me sobrecarregar tanto... Disse algo relativo a como eu me assemelho a um trator ávido de satisfazer minhas próprias vontades a qualquer custo, e nossas brigas seria sempre fruto disso e essas brigas nos distanciaram de modo que não conseguimos mais voltar ao que era antes...
Ouvi. Ele tinha muita razão em algumas coisas. Silenciei o choro. Pedi a Deus pra bloquear meus pensamentos mesmo, e só me permitir voltar depois de amanhã... Com calma na mente, corpo melhor estruturado e que me curasse daquela crise maluca.
Ao final, já deitado ao meu lado ele só disse, e essas palavras penetraram meu coração feito faca, dilacerando o restinho de esperança que me sobrava e em tom de descrença e desistência disse: "eu me orgulhava em saber que a nossa paixão não era como a dos outros casais. A nossa não acabara, mas agora vejo que ela acabou."

Fiquei parada, sentindo o gosto de fel dessa confissão, não quis pensar no que fazer daí em diante. Não quis pensar mais em nada. Ele fechou com chave de ouro. Foi sincero. Infelizmente.

Saiu hoje sem sequer se despedir. Não preocupou com minha saúde, com minhas emoções, com meu estado, com o episódio de ontem (talvez nunca mais falemos sobre o que aconteceu), não se importou com o quanto eu precisava de ajuda dele... dele... o quanto eu precisava que ele estivesse ao meu lado, comigo, por mim... Não estava. Não ficou. Me olhou e não me viu. Me tocou e não me sentiu. Foi embora e me deixou. Sozinha. Fiquei de vez sozinha. E assim estou agora...

Não me pergunte o que fazer. Só quis escrever pra tornar consciente que preciso me respeitar mais. Respeitar meus limites, meu corpo, meu coração (metáfora para sentimentos). Escrevi pra deixar aqui registrado pra mim mesma o dia que procurei em quem me apoiar e me vi caindo no chão por não encontrá-lo ali por mim.